sexta-feira, agosto 05, 2011

Neve.

A música nem lhe ajudava mais concluir raciocínios, era um mar de catarse para todos os lados, de vários momentos de sua vida, nem achava mais possível tudo convergir daquela maneira.
Dormir voltava a ser um arrependimento, será que nem lá teria paz. Ficava ativo até os olhos entregarem o jogo, brigava um tempo com eles, mas eles sempre venciam e ao apagar ela acendia em si, por um lado não era ruim ter a companhia mesmo que imaginária.
Com o jornal na mão começava a cogitar que talvez não houvesse outros sonhos, pessoas e coisas. Ficava agitado com essa idéia, mal lia as notícias, com os olhos cansados mal diferenciava o negrito do regular.
Tão certo quando achou que quilômetros eram mais frios do que a neve, hoje sabia ironicamente que a distância pouco importava e eles mesmos a criavam, nem sempre a mesma para cada um, conforme a vontade e necessidade latente, sempre assim.
Podia mais naquela noite, queria mais, os goles gelados de certa forma esquentavam o corpo, por momentos sorria feito uma criança, mesmo sozinho, mal pensava em tudo, estaria em casa em tempo e de verdade, nem tratava mais tudo com esperança só com solitude.
Em suas costas repousavam tantas razões de que nem podia mais se considerar certo ou errado, maniqueísmo ali seria em vão, demônios nunca entenderiam o “tudo por nada”. Faria o justo, como sempre o decisor de tudo estaria ali mais uma vez com ele, mesmo tremendo nunca fugiria dali de seu lado, esquerdo.

quarta-feira, julho 27, 2011

Zoom.

Olhava para cima como se algo pudesse ajudá-lo, as nuvens dançavam no azul do céu enquanto sua mente girava pela terra.
Todos sabiam, ele não era assim, não conseguia definir mais nada, abria a janela, a fitava por minutos seguidos. Estava longe dali, apenas tirava da frente suas obrigações sem sequer pensar nelas. Esperar em vão o dia da resolução não adiantaria nada, seus dedos ganhavam vontade própria e assim faziam o que bem entendiam, ele só assistia aquilo tudo, mas até quando essa vista de camarote seria oportuna?
Mal podia notar seus próprios movimentos e os dias acabavam em um instante e as noites eram longas, cansativas. Se perdia nos séculos passados, mesmo não estando no mesmo lugar de sempre, gaguejava francês, sentia o frio de São Petersburgo e esperavam os barcos de Cartagena chegar, só podia estar ficando maluco, como se já não fosse o suficiente.
Algo que aos poucos tomava tamanha proporção não podia ser ignorado, gastava sua produtividade em horários errados e depois ficava entregue ao alento, não saía mais pelas ruas, não pelo frio,  mas pela canseira.
E por ela deixava tudo de lado, quando se está assim, nunca está pleno, sólido. As olheiras tinham incorporado tão bem à sua face que pensava  já ter nascido com elas, a procura de substantivos fúteis tropeçava entre vielas estreitas da razão, luzes apagadas, zoom instaurado, não achava ninguém, não procurava ninguém, só olhava para todos os lugares tão vazios quanto ele.

quinta-feira, julho 21, 2011

Notícia.

Não tinha nada de errado com ela, ele que era uma péssima companhia, sabia que algo estava errado e deixava passar, não sabia como agir e deixava que o tempo resolvesse. Portanto não se fazia necessário, via a felicidade transparecendo sob o rosto dela, sabia que tinha dúvidas, problemas e mesmo assim ficava de mãos atadas e como num jogo de cartas marcadas sabia bem onde tudo terminaria, desespero e péssimas memórias de sua omissão, prazer esse era seu cartão de visitas.
Virava copos tão rápidos quanto as catracas do metrô, mas nada girava, lia seu nome em tantos lugares que tinha horas que simplesmente aceitava a loucura, não pensava em compartilhar isso  com ninguém.
Tudo fazia sentido, nela que pensava, ela era quem via, mesmo em outros rostos, ninguém conseguia com exatidão roubar aquelas qualidades, só sua loucura impunha esses contrapontos a razão.
De amor pra amor, a porta não abriria, não haveria mais olhares, ninguém se envolveria, quem haveria cansado e abusado da regra onde menos vale mais? De primeira vez, ele tinha derramado as lágrimas, com o passar do tempo sabia que não haveria perdão que não cansasse de perdoar.
Com a maçaneta trancada e as janelas abertas sentia um pouco da liberdade, olhava os aviões pela noite, longe, alto, tão cheios de razão, com a vista panorâmica podiam desdenhar de qualquer aventureiro perdido, afinal o amor deveria ser mais que lágrimas e remorsos, só precisava disso, uma boa notícia.

terça-feira, julho 12, 2011

Miopia.

“Não era disciplinado por virtude, e sim como reação contra a própria negligência; parecia ser generoso para encobrir a mesquinhez, que se fazia passar por prudente quando na verdade era desconfiado e sempre pensava o pior, que era conciliador para não sucumbir às próprias cóleras reprimidas que só era pontual para que ninguém saiba como pouco lhe importa o tempo alheio.”
Fechou o livro, apagou as luzes, não precisava de mais nenhum barulho naquela noite, a sensação de abandonar o livro era horrível, precisava de mais histórias, mais pessoas se perdendo pelo amor, defrontando toda a existência da razão, queria qualquer um que não fosse ele.
Histórias alheias podiam conter todas as emoções e reviravoltas intrigantes necessárias para uma vida, queria a sua tranquila, tinha em mente que nunca conseguiria isso.
Acordou, no mesmo minuto de todos os dias, esperou que o despertador também acordasse para começar tudo, igual como sempre, padrões por toda volta, mesmo tempo de banho, mesmas ruas, mesmo chocolate quente. Aquele mês não estava sendo solidário consigo mesmo.
Sua casa estava mais parecendo uma porta malas de trem e não só ela estava totalmente desarrumada, nada realmente estava ali de verdade, só de passagem, assim como ele de longe tentava avistar tudo, sua miopia não deixava.
Mesmo assim não faria nada para arrumar sua vista, tinha se apaixonado por tudo desta maneira, sem definição, sem menores detalhes, o todo, mesmo que embaçado era fascinante por si só, abraçaria quem precisasse e passaria todas as noites assim, seguindo somente sua vontade desconhecida, por meses até quando suportarem ele.

quarta-feira, julho 06, 2011

Elevador.

Mais impune que seus passos era seus pensamentos, embriagado nela e na ideia da vida sem ela, as noites eram bem dormidas agora as manhãs o atazanavam, já fazia parte de sua nova rotina cogitar como ela estaria, acordava digitava os números sem mesmo olhar, começava a escrever e ai se dava conta de que não podia fazer aquilo, quarta vez naquele mês, a gravidade era cinco vezes mais forte que o normal quando estava para apertar o botão verde, mesmo assim não era mais forte que ele.
Impedimentos nunca foi novidade para ele, vivendo com aquele salário a vida em si era uma liberdade, preso a horários e impedimentos agarrava tudo que podia com uma convicção desumana. Parava e refletia, talvez não gostasse de tanto de tudo assim, talvez não gostasse de ninguém, ela era o mais perto que esse sentimento tinha chego.
Se perdia no elevador, ao mesmo tempo que descia, seus olhos estavam longe, algo não estava certo, o bom daquele lugar era que diferente da maioria não tinha espelhos, podia perder toda a descida dos andares consigo mesmo, raramente parava para a entrada de mais alguém.
Queria poder continuar acreditando nela, fugia de todas e não conseguia se livrar do amor, algo que possivelmente nem existia mais ainda o deixava ali, perto, preso, preocupado, inerte.
A porta abria o frio voltava, o céu nada fazia, o sol nem machucava mais os olhos, cara fechada pela rua, ninguém lhe distribuía os sorrisos de volta mesmo. Quanto mais caminhava pela cidade menos apaixonado ficava por aqui, a infraestrutura própria ficava cada vez mais seletiva, dela boas memórias e um futuro incerto.

quinta-feira, junho 30, 2011

Mineral.

Tudo caía com uma facilidade extrema, não conseguia segurar nem com muito esforço, belo resumo do dia pensou.
A porta fechada, luz apagada, cada coisa no seu lugar, não devia nada a ninguém colocava o corpo sobre o colchão, esticava o braço ligava o rádio, esbarrava o olhar nos livros, pensava em uma desculpa qualquer e voltava os olhos para cima, maldito teto branco.
Nem ia comparar aqueles dias com falta de de sorte ou algo pior, estava muito frio para tanto, a música dava um ar mais alegre à toda aquela situação, solfejava as letras e quando não sabia acompanhava as notas, ninguém queria imaginar, ninguém sequer perderia tempo pensando nisso, somente ele, água pelo chão, metade chuva outra metade mineral, tudo normal aparentemente.
Sabia que suas frases eram longas, e no mínimo mal formuladas, mas insistia em tantas coisas e não era nisso que mudaria. Procurava a coragem, sempre achava ela fácil, se tornava um problema quando usava de maneira infantil, e não eram poucas vezes que isso tinha acontecido, tantos acontecimentos estranhos e até surreais que queria estar dormindo este tempo todo e acordar em uma realidade mais aprazível, na verdade queria estar dormindo agora.

quarta-feira, junho 29, 2011

Cortina.

Já tinha passado da meia noite, o que tinha em mente era não entrar em contradição, o tempo brincava com a ferida, o que restava dele ali?
Navalhas não fariam um estrago sequer comparado aquele peito, a lua ria de tudo isso acima deles, não era questão de movimentos e sim de sentimentos, o peso continuava ali, nenhum conselho servia, nenhum outro caso se aplicava.
De companhia só a chuva, fumaça saía de seu nariz era apenas o frio, ele também estava presente por ali, fato, sua memória era péssima em vários aspectos já em outros preferia nem comentar.
Nostalgia é negar que o presente é aceitável, é mergulhar entre memórias e eventos que nunca ocorreram daquela forma e mergulhar de olhos fechados em algo bom, nela.
Nem por isso tinha mais o orgulho em declamar que fazia isso, mesmo nunca parando de fazer.
Podia relaxar mais sim, mas ficava imaginando demais, não era feliz em tudo que fazia ou podia fazer, mas o que sentia era verdadeiro, mesmo querendo se estrangular ou simplesmente rir o dia afora, pensava como o coração acelerava cada vez que ela segurava em suas mãos e ali, e ficava pensando, se ela era capaz de despertava sempre sentimentos novos e ao mesmo tempo sentia medo e coragem à seu lado como ele sempre conseguia ser repetitivo, previsível e patético.
Queria te ver, sentar, conversar deixar o tempo passar, tirava os fones de ouvido e fitava o silêncio, deixava a cortina fechada desde então e sabia que se privar de tudo não levaria a nada, continuaria assim mesmo assim e entre um sonho e outro viria algum decente.

segunda-feira, junho 27, 2011

Sofá.

A graça é não sentir o gosto, é se perder de tal forma onde nada faça sentido e você consiga continuar sorrindo. Sentado ali cada gole doía, repuxava a garganta, segurava a tosse e levantava os lábios, ali ninguém merecia o ver de verdade.
Nada de leilões, qualquer esboço de ruptura já mudava tudo, não era só ele que se encontrava assim porém não encontra mais ninguém ali, o couro repuxado do sofá mostrava que ali já estiveram muitas outras pessoas, mesmo assim de quente só sua cabeça. Provavelmente era febre, não se daria ao trabalho de medi-lá e deixar que a preocupação roubasse lugar do sono. Eventualmente ela iria embora, todas iam e a lembrança de hospital já não era tão boa, coquetel de medicações aliados com tudo que estava naquele corpo, não parecia que fosse caber tudo.
Levantou dali decidido, pegou outra lata, andou por círculos por uma série de vezes, ninguém existia ali, qualquer contato visual rápido não era assimilado. Descia as escadas, passava a mão sob seu pescoço, nada normal, mil surpresas a espreita e nenhuma dessas interessava.
Oo olhos passavam longe de transparecer simpatia, jogava água, limpava a cara, escondia a olheira, fechava a porta e apagava tudo novamente, era uma arte, viver sem saúde e sem boa vontade, no rosto só sinceridade, no peito somente saudade.

quinta-feira, junho 23, 2011

Avião.

Todos os dias passavam tão rápido, o outono já havia terminado e pelas ruas felicidade pelo seu quarto nada demais, algumas garrafas pelo chão, a luz apagada, olhava pela janela e pensava não era tão ruim estar ali.
Nenhuma dúvida que tinha feito escolhas certas evidente que convivia com o que podia, não escolhera nada apenas aceitava.
E tão certo quanto a gravidade tudo corria bem e sim sabia que voltaria a ser aquele que desprezava, desta vez sabia que não era mais pela facilidade mas pela indiferença, a camada de impessoalidade um tanto quanto espessa novamente era criada. Nenhuma novidade, os dias passavam tão vazios quanto ele como se isso fosse possível, grandes novidades eram suprimidas pelo momento, pela primeira vez talvez pudesse dizer que entedia a malaise, o mal-estar o consumia e sempre mais uma contravenção pela frente.
Simplesmente não saber dizer mais não valia como argumento, por entre batidas novas a única que sentia falta era do coração dela. Buscava em outros discos inspiração pra construir algo melhor em si, se embriagava na preguiça e se apoiava na falta de tempo pra tudo, não que fosse mentira, mal tinha tempo para dormir e estava atolado em projetos pessoais e impessoais, tudo valia a pena. Só precisava de um prazo e os estímulos vinham de toda essa pressão.
Caminhar ainda tinha o mesmo gosto, novas paisagens mesmos sentimentos, seria tão previsível assim? Seus passos alternavam entre a calçada e a grama, de um lado o trânsito caótico da capital de outro a serenidade de uma lagoa, contraste tão bacana quanto as estrelas e as luzes do avião sobre ele.
Tão ruim quanto isso era sempre a sensação de estar vivendo a vida de uma outra pessoa, nunca estar ou ter confiança e se dizer satisfeito, se não se importar ninguém se machuca certo? Iria esperar quanto tempo para que a vida lhe mostrasse que estava errado, não fazia ideia, mas de alguma forma já cogitar isso era uma pequena espécie de avanço.
De nada adiantaria reclamar pois tudo ia sob os conformes, cama, banho, rotina, rotina, rotina e quanto mais vivenciava isso menos fazia sentido, fugir não adiantava, ficar ali não era uma obrigação mas sim uma escolha, iria mudar ao invés de adiantar.

segunda-feira, junho 06, 2011

Carros.

Praticamente era uma pessoa nova, não era mais questão de sentido, aos poucos tudo caía, pela pia ficavam seus restos, algo que há alguns anos sustentava, sem qualquer parte emotiva fixada ali.
Talvez parecesse mais novo, continuava sem noção de quão ridículo podia parecer, não precisava mais de conselhos e sim de experiências, quebraria a cara quantas vezes fossem necessárias.
Mal via todos que queria, não só a distância, talvez o tempo, talvez vontade, se reservava direitos exclusivos, trocava quase tudo por uma xícara de chá.
De lado na mesa se esforçava e não conseguia olhar para fora, repousava a xícara sobre a janela, colocava sua cabeça para fora e apreciava o vento, todas as outras janelas, luzes apagadas, as da rua acessa e de companhia só alguns carros, todos apressados, todos com destinos, aparentemente.
Sabia que o silêncio ali era a melhor recompensa para si, não consegui cogitar mais mudanças, mesmo insatisfeito com o presente não via alternativas palpáveis num futuro próximo, talvez fosse simplesmente assim, nunca estava realmente ali e bom.
Traçava planos com uma certeza de que nunca estaria errado, pelo menos tentava transpassar isso, não tinha nem certeza de que camiseta usaria no dia seguinte ou se teria janta.
Sempre teve a confiança ao seu lado, jamais pensaria que por ali escapando das mãos dela perderia isso totalmente, irônico pensar que nas únicas horas que necessariamente precisava ser confiante ele não transparecia nenhuma, e por si só podia dizer que a fraqueza e as lágrimas eram revoltantes, deveriam ser apenas usadas quando roubam todos os pesos das palavras, não tinha sido o caso até então, todo esse drama, todos esses dias.
Fazer amizades era ótimo, mas antes de fazer histórias, queria vivenciá-las, sentir de verdade o gosto de tudo, se perder em abraços, sentir a batida de corações tão incertos quanto a noite.
Sobre isso sabia exatamente, não existe morte pior que o fim da esperança, não esperava mais nada de ninguém além dele, dali podia confiar na alegria e nas tristeza.

quinta-feira, maio 26, 2011

Derrota.

Ter a certeza que não era o primeiro, mas saber que era o único. De que adiantava fazer a barba e lavar o rosto, os dias não lhe traziam mais nenhuma novidade, não era tudo que tinha perdido o gosto, mas ele em especial.
Nada de fantasias e achismos, sabia que nunca ia encontrá-la em outros corpos, a verdade é que nem ele mais sabia o quem era ela, talvez nunca tivesse sabido. Nunca exigiu qualidades que nem ele possuía mas nem por isso não era seletivo, em matéria de amor tinha sempre muito cuidado, sabia que era o único sentimento que lhe fazia perder um dia de choro ou sorrir a cada cinco minutos.
Desdenhava pensamentos, já era alheio a eles, conseguia conviver, finalmente aceitou que talvez ela permanecesse ali mais tempo que o pretendido, não era bom com despedidas, não apressaria sua mente por nada.
Tudo a seu tempo, não mais metódico com fórmulas e respostas prontas, nada sabia, nada fazia, esperaria um caminho, viveria a cada dia, expectativas lá embaixo, talvez satisfação lá encima, talvez.
O canal estava mais vazio do que de costume, certamente ela nunca mais passaria por ali, ele eventualmente, sairia pela cidade, sentaria em bancos de madeira sozinho, pelas três da manhã a cidade era dele, sua mente era dela.
Jamais conseguiria culpá-la por nada, e o ego faria todo o esforço do mundo para atribuir a si a razão da derrota, mesmo quando não sabia exatamente o que tinha perdido. Tinha ficado claro que só teve lampejos dela, alguns momentos pode tê-la por inteiro, mas preferiu seguir outro ritmo, o do medo, se esqueceu de uma das premissas mais básicas e a única certeza que sempre tinha feito jus, podia ter arrependimento ou desculpas, mas nunca os dois, e ali sabia que os dois reinavam igualitariamente.
Não ia facilitar mais uma quebra, se diria consciente e para se perdoar, mas não tinha nem um pouco da experiência e da maturidade para negar nada a ninguém, lembrando que ninguém neste caso era uma pessoa só e ao mesmo tempo todas.

quinta-feira, maio 19, 2011

Catraca.

Aonde mais se afundaria, não chegava ao fundo de nada, começou tudo e terminou nada, estava virando questão de orgulho.
Ajeitava as luvas, lavava o rosto por uma última vez e saía, acreditava estar longe de qualquer conclusão, algum dia talvez as coisas fossem como ele quisesse, algum dia e até lá seguiria se adaptando, se moldava feito água a tudo que lhe era proposto, de fato tinha preferências que ficavam em segundo plano, e eventualmente sairiam debaixo daquele tabele.
Catraca, curva, chocolate quente, marasmo. Belo resumo de suas semanas, os cliques só serviam pra os distrair das músicas novas, conversas vazias e esperanças dissimuladas. Nem tão belo quanto céu, mas aquela tela tinha tudo, respirava o mundo por ela, invejava aqueles do velho continente, colocava isso em sua cabeça. Se preocupava com todos tão superficialmente que não tinha coragem de efetivamente dizer isso.
De doce só o vento cortante, a garoa insinuava novos tempos, por baixo do casaco e das camisetas tudo estava parado, nada batia, não sentia nada, talvez fosse o frio, e nem pensando sobre o clima.

sábado, maio 07, 2011

Andar.

Tinha isso em seus planos há um bom tempo e justamente por isso não achou que ia demorar tanto tempo pra perceber que não dá pra amar sozinho, insistir no desamor não chega a ser inútil, mas passa longe do gratificante.
O nome dela estava em todo lugar, na janela, na rua, na lua, e só nesses dias tinha percebido que a lua era nada além de uma vírgula no céu, não foi mais longe, semiótica naquela semana somente lhe traria mais problemas.
Já era estranho não poder mais chamá-la de amor, parava por ai, a parte de nem poder somente chamá-la nunca esteve dentre seus planos, sempre falhos.
Mais que reaprender a andar, amar, nunca entendeu disso direito, a máxima dos seis meses sempre reinava. Não estava satisfeito com muitas coisas em sua vida, ela não necessitava de uma reavaliação já que aos poucos apaziguava tudo, com muita atenção no "aos poucos". Nunca devia ter se calado diante dela, acreditava tanto na mudança que ele acabou mudando, sem perceber não correu riscos, não se deixou levar pelas vontades e princípios, enfim não era mais ele, a quanto tempo não sorria antes de dormir? Mal tinha tempo de pensar em algo antes que os olhos fechassem e ali uma hora ou outra ela apareceria. E sempre era bom, o martírio era acordar, mesmo sem cogitar viver no mundo dos sonhos aquelas cinco horas sempre lhe traziam mais soluções do que problemas, mesmo saindo mais cansado do que antes de deitar.
Limpava a cara, deixava a água quente escorrer por todo seu corpo, trancava a porta com dois giros na fechadura e saía, nada seguro perto dos quatro giros que o seu coração tinha dado.

domingo, maio 01, 2011

Dia.

Nem fazia tanto sentido o tanto que esperava, embaixo da chuva já estava a mais de uma hora, ali mais de cem rostos aparentemente mais preocupados que ele, tantas histórias, necessidades e problemas em cada expressão naquela esquina ele mal podia dizer que estava triste.
Não via sentido em se expressar, apesar de todos terem um guarda-chuva ou estarem sob algum teto ele era indiferente, estava ali se molhando sem receio e arrependimentos. Engraçado quando já sabia de cor todos os ônibus que iam passar antes do que ele necessitava, lógico que em alguns dias, a maioria deles, não pegava o ideal e andava o resto do caminho, o ideal quase nunca chegava, sempre demorava mais que uma hora, ficava sempre confuso entre esperar e desfrutar dele ou ir em qualquer um e adiantar sua vida.
Quão bagunçada estava aquela vida e sua mente, os dias passavam bem, sempre corrido, por mais que tivesse inúmeros problemas o silêncio e a reflexão os resolviam, porém pela noite pensar nela era irremediável, girava, trocava a parede, mudava o foco, fechava e abria os olhos e nada parecia resolver, a sensação dos lábios dela, o calor das mãos, o brilho dos olhos, não tinha um dia sequer que se dizia tranquilo e que dormia para começar outro dia melhor.
Em si era somente desencontro, não definia nenhuma linha de pensamento ficava fácil se perder em sentimentos e memórias, queria voltar ao que tinha, queria mais do que tinha, enfim queria ela, mas tinha chego ao um ponto que não sabia mais se não a conhecia de verdade mas se ela tinha mudado esse tanto. Ao ponto de efetivamente não saber mais se aquele ônibus passava ou naquela esquina maltratada e esquecida.

sábado, abril 23, 2011

Calor.

Nada como a água do mar, areia por todo o lado, só o barulho das ondas, nada disso fazia efeito nele, uma camada de insensibilidade reinava em si, olhava para os lados, só o horizonte ali no meio de dezenas de pessoas lhe fazia um pouco de sentido, além mar tudo parecia novo, novos problemas era disso que precisava.
Já era capaz de sorrir, bebia os problemas para longe, estava cansado de copos cheios e pessoas vazias, como o poeta da rua dizia.
Sempre calor, sempre quente, acelerava o passo, corria por ai, era o única maneira do coração bater mais forte naquela semana, e ele ainda respondia bem, o pouco que conhecia da endorfina passava por ele, sensação enfim boa, tinha muitas marcas em si, tudo isso e não tinha mais nada.
Pode ser que exista alguém no mundo que possa explicar o vazio que preenche o corpo, uma pessoa que exemplifique em uma receita básica que efetivamente funcione. Não acreditava mais que só um amor cura outro amor, no entanto a premissa que diz que quem chora agora ri depois ainda parecia sensata.
Desacelerava o passo, não agüentava mais correr o quanto corria com dezessete anos, mesmo assim ainda ia longe, disso tinha certeza.

quinta-feira, abril 14, 2011

Amor.

Todos somos únicos e diferentes, isso nos torna todos iguais em ao menos um aspecto. Havia desistido de dormir naquela noite nem tinha mais medo dos sonhos, simplesmente não precisaria. No fim tudo havia se resolvido, tiraram pendências e com isso os vínculos não seriam mais necessários.
Não existia tanta harmonia assim, seus olhos nunca mentiam, inchados e banhados em lágrimas molhavam a camisa, não se importava, não era de esconder nada.
Mesmo assim, tinha escondido todo o discurso previamente pensado, uma toda retórica pronta jogada por água abaixo, tinha muito a dizer, mas como sempre, deixou-a falar primeiro, e com isso desabou.
Queria ter tido coragem de antes de tudo, falar que não estava tudo bem, que não queria perdê-lá novamente, queria a segurar nos braços e dizer que ninguém no mundo o fazia mais feliz e que faria de tudo para que isso não acontecesse.
Não teve, escutou e ainda assim sentiu o golpe, a mesma mão confortável e acolhedora lhe suprimia o ar, não com com maldade, mas com uma sinceridade tão característica que ele concordava em não fazer nada, via a mulher de seus sonhos escorrendo por entre os dedos, e o máximo que conseguia fazer erar coçar a barba e respirar fundo, naquele momento já não era questão de coragem, enfim ela estava decidida e ele não estava nem um pouco calejado, queria tempo, queria refletir, voltar no tempo e mudar cada passo, não podia fugir da situação, queria adaptá-la a algo que não deixasse um vazio em seu peito.
Mesmo se ele falasse que ia embora e ficaria bem estaria mentindo, o coração tinha estacionado ali anos atrás e parecia sem forças de sair, provavelmente esse seja o problema, a dor invadia, as lágrimas caíam e ele sabia que não podia fazer nada.
No fundo ela não tinha culpa de tudo isso, tampouco ele, tomado pelo receio o tempo toda daquela relação não esteve nenhuma parte do tempo realmente seguro, ela precisava de mais, queria outros sentimentos, obviamente eram muito novos pra se prender assim.
Ele deixava o silêncio falar por ele, não podia expressar a raiva de ver algum de seus erros expostos ali, perdia a linha de raciocínio muito fácil, exemplificava eventos que não tinham relação alguma só para que não ficasse mudo o tempo todo.
A casa escura, o litro acabou tão rápido, devia ter comprado mais, sabia que eventualmente esse dia chegaria e por mais fútil que fosse a garrafa podia ser sua musa, mas nunca a substituiria.
Precisava de carinho, precisava dela, desta vez o medo era muito maior, não teria uma “segunda chance”, podia parecer pouco, mas quase um quinto da vida dele estava ali, e era aquilo. Poucas certezas existem quando se tem vinte anos, que amava aquela mulher era uma das únicas. E o pior, que hoje ainda ama, e o amor consegue ser extremamente ingrato, devia ter escutado todos a sua volta, devia ter agarrado ela enquanto pode, agora só restava lamentos, lágrimas e suspiros.

domingo, abril 10, 2011

Fundo.

O amor não dá garantias de nada, não parecia mais ser auto suficiente. O maior problema no entanto era que não conseguia suprir as necessidades dela. Não que fosse exigido mais que pudesse oferecer, mas no entanto não o que ela queria.
Não chegava parecer um pesadelo, mesmo assim tudo estava frio, distante, não tudo, o clima era quente, o começo do ano se mostrava comum fora os desastres ao redor do mundo. Recorria como sempre as ajudas mais fáceis, o silêncio e os copos.
Nada de julgar, pensar demais, abusos, nada disso. Não iria levar a nada, se perguntava como não conseguia entender aquelas necessidades e sequer de onde elas vinham. Muitas vezes teve certeza de que tudo ali não iria mudar, mas uma vez teria quebrado a cara.
Mesmo mais velho, um pouco mais experiente, talvez a queda fosse menor, talvez não. No momento já não lidava tão bem com tudo a sua volta, tentava tirar as coisas da frente, pouco assimilava de tudo e não recorria a ninguém. Por opção própria, claro que conhecia muitas pessoas, simplesmente não queria envolver mais ninguém naquilo, queria simplesmente parar de soluçar e achar uma solução.
Não ia simplesmente abrir aos quatro ventos de que estava carente, pois no fundo não era totalmente verdade, tinha em quem se apoiar, só sabia que ele mesmo não podia apoiá-la. Mesmo assim estava ali caso necessário e disso tinha certeza, estaria sempre ali quando ela precisasse, independente de tudo que eventualmente viesse acontecer.
E ele sim precisava dela, gostava disso, queria falar, queria ouvir, queria crescer. Precisava sim disso, queria encarar de frente a vida, não estava ficando nem um pouco mais novo. Ao menos o tempo não parecia passar tão mais rápido, de um lado agravava ainda mais a falta dela, tinha saudades diariamente e era nessa falta de que as horas transcorriam, cada semana sem ela demorava um mês em sua cabeça, não culpava ela, o máximo que os dois podiam fazer estava sendo feito. Seus olhos ainda vão brilhar sempre que olhar para aquele sorriso e vai desmontar a cada abraço, saudades.

quarta-feira, abril 06, 2011

Gripe.

Aqueles dias que apenas um abraço talvez resolvesse tudo, estavam cada vez mais raros. Um misto de receio com excitação um tanto quanto estranho, parecido de quando você está de meias e pisa no chão molhado.
Provavelmente pensou nela a noite inteira, não sabia, mas acordou com isso e ela na cabeça, por hora só deixava o vazio invadir, não iria encontrar a mão dela tão cedo, no fim não era triste somente saudoso demais.
Poeira pela casa toda, dezenas de tarefas a fazer e só conseguia descansar, não era gripe, mal estar, não era nada.

terça-feira, abril 05, 2011

Céu.

Se pegasse a caneta agora certamente se arrependia do que sairia de sua mão, pensou melhor, não era conveniente dizer para ele se acalmar uma vez que estava sempre calmo.
Ponderava tanto antes de emitir qualquer opinião, que quando necessitava de uma resposta, uma interação ao vivo sempre se expressava mal. Preferia dar uma resposta sabendo que estava errada ao ficar calado. Na maioria das vezes isso era um problema.
Não podia afirmar que se entendiam no silêncio, mas também não era um problema, antes assim do que mais problemas.
Um abraço e uma noite passava, nunca precisou de muito para seguir, parava, pensava, pela janela aviões passavam um atrás do outro, para onde iam todos?
Fitava o relógio, fechava os olhos e na esperança de ter avançado muito o tempo, abria os olhos e sem surpresa uns vinte segundos haviam se passado, provavelmente o recorde mundial de paciência, e como era paciente, nos dois sentidos na palavra, até certo ponto não achava mais que podia influenciar em alguma coisa, esperava, vivia até onde dava, de uma vez por todas teve a coragem de efetivamente “deixar levar”, agüentava aos trancos, mas funcionava razoavelmente bem, o bastante para que investisse nisso o que fosse preciso.
Soluções escorriam por sua mente a cada minuto, sabia que não conseguiria levar todas elas a uma ação, e justamente agora que dependia delas para viver sabia que devia melhor empregá-las, ideias não são tão obedientes quanto achava, importante notar logo que elas começam a sair do nada, e não voltam, sua base é criada a partir do escuro e nele se sustentam, e uma vez explicadas mudam novamente, um jogo de luzes, talvez essa fosse a melhor analogia que fosse encontrar naquela noite.
Não tinha turbinas mas voava e longe, ia para o céu, encontrava a luz real e brutalmente descia a realidade, nada brilhante mesmo assim memorável, assim como o universo tudo aqui tinha que fazer sentido, valia a pena, tremia o peito, falta de ar característica dos dezessete anos, nada como uma pneumonia para lembrar a importância dos problemas, não haveriam mais mais explosões, o sol voltaria na manhã seguinte, não tinha certeza disso, e exatamente dessa maneira continuaria cativado.

sábado, março 26, 2011

Deriva.

As caminhadas tinham voltado ao normal, saía e não falava pra ninguém, ou se alguém perguntasse só dizia que tinha saído, pegava um documento a chave de casa e ia, pra onde não sabia ao certo, por entre ruas, árvores e postes, o silêncio reinava.
Já pensava demais, mas perdia muito tempo em certos tópicos deixava de lado outros muito mais importantes. Acertava de menos e errava demais, e por muitas vezes nem percebia, quão otário conseguia ser? Não fazia idéia.
Nada de luz naquelas ruas, nada nele também, chutava as pedrinhas do asfalto e olhava pra frente, não sabia prever o amanhã muito menos os anos futuros, a cada passo sentia que o tempo passava, a noite não se importava em esperar.
Voltava pra seu quarto, fitava o telefone, desistia, ia para outro lado, fingia beber água, segurava o violão mas não ousava tocar naquela hora, tirava os mesmos harmônicos de sempre, o colocava de lado e deitava, simulava o velho abraço no edredom, não conseguia se enganar mais e eventualmente dormia.
Recorrentemente iria ficar assim à deriva, seu peito tremia e assim afirmava, há tempos que estava assim e ainda se surpreendia, queria conhecê-la e eventualmente entender tudo que se passava entre os dois. Por hora sabia que valia a pena, só ela conseguia lhe arrancar os mais sinceros sorrisos, simplesmente queria poder dizer o mesmo.

quarta-feira, março 16, 2011

Sorte.

As horas não passam, o ônibus não anda, e mesmo assim ele não parava, sua mente em desacordo com seu corpo, noção e importância tinham valores confusos na sua cabeça. Não era questão de ganhar ou perder alguém, era algo maior, manter era palavra.
Não tinham um lugar pra si, nem podiam, talvez não se importassem tanto, sem aparências, sem máscaras, com o tempo todas as barreiras dele iam cair, sentia em si uma enorme confiança que era quebrada toda semana, dos males o menor, não iria se iludir tão fácil assim.
A rua estava ali, junto com a garoa, tinha um destino certo, chegou, sentou, passou um tempo ali, soltou palavras bobas, um abraço sincero, combinou coisas que nunca realizaria, criou e matou esperanças num piscar de olhos.
O copo acabava, suas preocupações aumentava, não era resolvido fisicamente tampouco o coração, buscava a garrafa, o enchia, dava risadas vazias e repetia esses passos com exatidão, logo não podia reclamar da mesmice afinal era bom em alguma coisa.
Já estava tarde, voltaria cambaleando pelas vias, deixaria a chuva de lado e voltaria para debaixo das cobertas e com sorte sonharia com ela.

quinta-feira, março 10, 2011

Frase.

O barulho dos cliques já eram tão sincronizados que podia criar músicas a partir dele, sobre a mesa junto com ele estavam a carteira, celular e  seus cotovelos apoiados. A luz só vinha de fora, por entre as cortinas passava um pequeno feixe dela, e aquilo o acalmava tanto, a plena presença do sol.
Por inveja sua cadeira soava também, nada magistral e obediente quanto seu adversário, mas estava ali presente. Sua mente girava naqueles dias, tentar prevê-la só servia pra se enganar, seus fones de ouvido desprezavam tudo que vinha de fora e como um filtro pré-selecionava coisas boas de que escutaria ao longo de seu dia.
Não estava perdido e solitário, mas também não descartaria esses dois adjetivos para descrever como passaria seus dias, sem si, sem ela.
Ao menos atuava bem, perdia um pouco de si próprio em cada oportunidade, procurava uma caneta em uma página qualquer, repassava dias, momentos, recados e começava a reescrever tudo, fazendo isso não conseguia ser tão forte quanto Chico, tentava apenas ser sincero, como se fosse fácil.
Ter noção de que agora ela pudesse escutar tornava tudo tão mais interessante e ao mesmo tempo aterrorizante, media cada frase, sentido e ainda assim sabia que não se expressava com a exatidão pretendida.
De uma hora para a outra fechava tudo, desplugava os fones de seu ouvido descia todos os andares e caminhava. Dali não tirava muitas conclusões, sabia quanto estava satisfeito, voltava para casa, a dizia boa noite e brigava com a cama para dormir e por poucas horas não pensar em mais nada, já que as outras dezoito horas do dia estavam reservadas para ela.

terça-feira, março 08, 2011

Bem.

Todos acham se conhecer bem, mas se esquecem de como verdadeiramente são em alguns momentos da vida, isso muda assim como as pessoas, ele mesmo não tinha muitas certezas, seu senso de significados era muito peculiar, loucura e aceitável andavam muito próximos, suas bases de noção eram muito próprias e obviamente ele mesmo não entendia e não tinha a confiança de passar isso a frente para outras pessoas.
Enquanto a estrada passava rapidamente por seus olhos e lhe fazia companhia tinha um sentimento soberano em si, ao mesmo tempo que muitas coisas novas, e boas, aconteciam ele queria estar seguro de si e dela. No fundo podia ser franco e dizer que gostava um pouco daquilo tudo, um pouco de tensão, uma falsa sensação de liberdade que ele não estava procurando mas parecia cair bem para ambos os lados.
Não ficava tão óbvio assim, mas isso lhe ocorria frequentemente, tinha receio de pedir mais dela do que ela estava disposta a oferecer e com isso vê-la esvaindo por entre seus dedos lhe provocava arrepios e insônia. Sabia também que o que ele oferecia tinha que ser sempre melhor, tinha em mente que era repetitivo e por muitas vezes monótono, fazia pequenos exercícios pessoais para que isso não acontecesse frequentemente, mas tinha certeza que falhava diversas vezes.
Deixar que uma rotina se constitua faz com que se crie uma confortável e chata zona de segurança que pode ser despedaçada como um vidro e também mostra que o medo de tentar novas situações procure desculpa no comodismo.
No horizonte já avistava o começo dos arranha-céus, a fuligem e fumaça já estavam em contato com seu pulmão, mas nada perto da ansiedade de outro órgão poucos centímetros acima deste, só podia pensar em uma coisa, saudade.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Porta.

Perdia a noção de espaço e tempo, surtava, ele não era assim, porque insistia nisso? A televisão continuava desligada a mais de um mês, só servia naquele quarto para acomodar a poeira por ali, de resto tudo era usado, só havia a cama e janela de sobra também.
A janela em si era a mais importante de tudo, de nada serviria a cama num cômodo fechado, sem ar, sem vida. Consequentemente surtaria mais vezes se não pudesse assistir as luzes indo de um lado para o outro naquela avenida, não necessariamente precisava daquilo para pensar, mas era um ótimo estímulo.
As tarefas aos poucos iam se empilhando na sua cabeça, mal administrava seu tempo atual, tudo que via ou escutava parecia ser algo bacana para se engajar, preferia lidar com o tempo desta maneira, descompromissado e ao mesmo tempo comprometido com várias coisas.
Então seria óbvio que talvez o pensamento nela perdesse um pouco de espaço na sua cabeça, óbvio mas errado, como sempre. E enquanto o pensamento existisse como um estímulo, tudo bem. Do contrário teria que redefinir suas metas e projeções, não que tivesse muitas, o que queria deixar claro afinal é que mesmo ela dando voltas, ia e voltava, ele tinha o peito com a porta aberta para ela, só bastava ela entrar e ficar.

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Verdade.

Tantas vontades, projetos cresciam diariamente em si, a única coisa que não podia dizer era que estava sofrendo de tédio. Com tudo convergindo e antes de ficar louco parou e talvez pela primeira vez na vida pode notar que nem tudo partia dele mesmo, toda sua vida tinha sido egocêntrico a ponto de se culpar ou vangloriar por tudo que acontecia a sua volta. Em todas as relações sociais nunca tinha levado em consideração opiniões e sentimentos alheios das pessoas que mais se importava.
O fato que ambos eram jovens, e com isso que era óbvio que não sabiam exatamente o que queriam, e se deixavam levar por todo o tempo que desse, ficava claro que ambos deviam rir e chorar com outras pessoas, vivenciar tudo que podiam, viajar, trabalhar, dormir, e tudo por si próprios não por outra pessoa qualquer. Ele por sua vez guardava ressentimentos, não era tão honesto quanto achava ela ser, nada que mudasse muito uma vez que não conseguia mentir só omitir, era bom em resguardar coisas sem que afetassem sua vida, e nem esperava nenhum tipo de recompensava ou castigo por isso fazia apenas por não se importar com muitas coisas, e como a verdade lhe machucava.
Se conheciam a um bom tempo, talvez até demais, mesmo assim não sabia ao certo como lidar com ela, começavam frases e movimentos juntos, mesmo longe. Ele sempre interrompia assuntos importantes com brincadeiras bobas, se perdia facilmente no raciocínio, repetia um mesmo argumento não válido uma série de vezes, por não conseguir em algo melhor, e mesmo assim, em qualquer situação, um sorriso e um beijo dela lhe abria a felicidade novamente e o coração dava uma pequena acalmada em seus batimentos.
Aquela chuva talvez se tornasse constante, todo dia raramente na mesma hora mas sempre caia. Desnecessário comentar que todo dia era atingido, nada de proteção pra si, estava acostumado com situações piores, por mais ridículo que fosse, sem ela não sabia nem chorar, e não é sempre que se sente a vida de verdade por ai afora, não sabia explicar, só sabia que sem ela só era desamor.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Avalanche.

Papéis estavam jogados por todos os lados, não estavam preenchido com melancolia dessa vez, achava que não, empilhados faziam companhia aos cadernos e por sua vez ao chão, péssimo contraste com o piso branco do quarto pensou, arrumou tudo e os jogou de uma vez dentro do armário, ali pelo menos não os olharia tão frequentemente e só daria atenção na hora certa.
O despertador rugia repetidamente, o dia não podia esperar mais para começar, assim que se levantou o sol já estava lá o esperando, o chuveiro sempre mais quente ou mais frio que o necessário só o desanimava mais para aquele dia.
No mais se entregava a si mesmo, qualquer hora era agradável para que pensasse nela, puro egoísmo, não era nem dono de si e tinha pretensão de um dia tê-la, não literalmente, o que estava fazendo lá o tempo todo, tinha perdido todo o controle, e sem notar sua vida tinha se transformado numa avalanche.
Emocionalmente não lidava melhor com seus sentimentos do que quando tinha dezessete anos, talvez por hora fingisse melhor, e com o passar do tempo via que talvez nem isso. Não tinha mais amarras, falava sempre que precisava e isso sim lhe fazia um pouco melhor, não mais correto ou experiente porém.
Se deixava perder na maioria das noites, limites que tinham sido impostos por ele mesmo tinha ido embora junto com o alaranjado da tarde.
Agora já era noite, de volta ao mesmo lugar que o dia havia começado, pra variar nada tinha mudado muito, esperava que no fundo isso não fosse verdade, e que a cada dia mudasse muito e que cada ato valesse, não era nada, nem livre, e sabia que preocupação não trazia tantas glórias assim.
Acertou novamente o despertador e o deixou bem perto dos ouvidos, quem sabe ele não trazia uma notícia boa pra variar em meio ao caos dos rugidos.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Franco.

Aquela mesma sensação de estar sozinho num quarto cheio de pessoas. Sorrir continuava fácil, nunca tinha sido o contrário, naqueles meses isso tinha sido mais recorrente que aquela sensação. Mas ela não tinha lhe largado porém não era sua, talvez nunca seria, talvez ele não merecesse ou fizesse o bastante pra isso.
As mãos estavam entrelaçadas, e era ótimo, aquele calor aconchegante continuava ali, o afeto trazia consigo um pouco de tranqüilidade pra ele, mas o mesmo tinha muita cautela com essa mesma tranqüilidade, ela continuaria assim até quando?
Não se dizia imutável, e ela então palavras não descreveriam aquela mente, se perguntava diariamente se conseguia imaginar como ela pensava, e nunca fazia ideia, e sendo franco, nunca saberia, e ai cairia em mais uma de suas máximas, por isso ela continuava incrível.
E assim com o passar dos dias, por vezes sentia um distanciamento por vezes não, e não sabia como perguntá-la e se devia, talvez fosse normal, contava um pouco com a sorte também, já que a memória apenas guardava momentos e não dias inteiros.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Medo.

A mesma melodia tocava, seguidamente, não sabia ao certo quantas vezes tinha apertado o botão para começar tudo novamente, trocaria qualquer boa memória para não passar por aquilo novamente. Uma troca fácil e nada simples, enfim, sabia cada letra de cor, e infelizmente ou felizmente aquelas palavras sempre lhe faziam sentido, optava pela primeira opção, era uma de suas músicas favoritas de todo o tempo e não possuía ela, justamente para não escutá-la quando não precisasse, ele tinha que ir atrás dela.
Mesmo fazendo sentido, não concordava com uma palavra, apenas a última frase que que tinha um certo respeito mesmo fora do contexto “E não sinto que quero morrer ainda”.
Claro que era ridículo, não viveria nem morreria por amor, a não ser o próprio, que a propósito não via a algum tempo e até então não tinha sentido sua falta, provavelmente conseguisse viver sem isso.
Alentos vinham de praticamente todos os lados, menos do qual realmente importava para si, certo ou errado continuava nisso, insistia das maneiras mais erradas possíveis, mesmo com o tempo a experiência adquiria ao longo dos anos parecia escorrer por entre os dedos enquanto tomava qualquer tipo de atitude.
Naqueles dias dificilmente sairia da cama, ali deitado milhares de pensamentos corriam sua mente e inevitavelmente ela era fator recorrente desses pensamentos, a aquela indiferença por fim o assombrava. Ele não tinha para si a posse de ninguém, qualquer pequeno pedaço dela então seria loucura, pateticamente seguia nessa, faltava-lhe argumentos quando tinha muito a dizer, deixava que o silêncio preenchesse um espaço muito importante a cada conversação, e não era necessário comentar que aqui o medo se alojava também, não tinha consciência de que o medo nada era nada saudável, mas esperá-la lhe fazia tão bem.
Não tinha em mente recomeçar, nunca lhe passou pela cabeça, não era tão sonhador como parecia, se convencia por si só, toda aquela sedução era válida, queria viver e não mais voar à toa. Podia dizer sem medo confiava no seu egoísmo apertaria aquele botão novamente e a musica certamente recomeçaria, a noite seria desperdiçada em vão, a insônia era sempre mal recebida mas por enquanto ela era única certeza de companheira para suas noites.