terça-feira, julho 12, 2011

Miopia.

“Não era disciplinado por virtude, e sim como reação contra a própria negligência; parecia ser generoso para encobrir a mesquinhez, que se fazia passar por prudente quando na verdade era desconfiado e sempre pensava o pior, que era conciliador para não sucumbir às próprias cóleras reprimidas que só era pontual para que ninguém saiba como pouco lhe importa o tempo alheio.”
Fechou o livro, apagou as luzes, não precisava de mais nenhum barulho naquela noite, a sensação de abandonar o livro era horrível, precisava de mais histórias, mais pessoas se perdendo pelo amor, defrontando toda a existência da razão, queria qualquer um que não fosse ele.
Histórias alheias podiam conter todas as emoções e reviravoltas intrigantes necessárias para uma vida, queria a sua tranquila, tinha em mente que nunca conseguiria isso.
Acordou, no mesmo minuto de todos os dias, esperou que o despertador também acordasse para começar tudo, igual como sempre, padrões por toda volta, mesmo tempo de banho, mesmas ruas, mesmo chocolate quente. Aquele mês não estava sendo solidário consigo mesmo.
Sua casa estava mais parecendo uma porta malas de trem e não só ela estava totalmente desarrumada, nada realmente estava ali de verdade, só de passagem, assim como ele de longe tentava avistar tudo, sua miopia não deixava.
Mesmo assim não faria nada para arrumar sua vista, tinha se apaixonado por tudo desta maneira, sem definição, sem menores detalhes, o todo, mesmo que embaçado era fascinante por si só, abraçaria quem precisasse e passaria todas as noites assim, seguindo somente sua vontade desconhecida, por meses até quando suportarem ele.

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