quinta-feira, novembro 26, 2009

Tristeza.

O que mais precisavam ali era um pouco de sorte. Já nem pensavam mais, tinham um objetivo, mas até então nenhuma meta. O dia os sufocava, horas se passavam e continuavam se movendo porém estáticos produtivamente. em suas cabeças hora nenhuma ocorreu desistir ou parar, um minuto que for, a solução apareceria. Tudo tranquilo, transpareciam dessa maneira. Sabiam que tinham que esperar por algo que não dependiam deles propriamente em si.
Ele jamais deixou que o desespero tomasse conta de si, era seguro na medida do possível e fazia com que as pessoas ao seu redor ficassem mais calmas do que o habitual, não considerava um dom, sempre teve isso, mas ao longo do tempo teve a capacidade de aprimorar tal perícia com excelência. Mas mesmo com toda sua regularidade não conseguia não ficar abalado com tal situação, tempo era algo que o irritava, dentre seus ódios, tinha certeza que ela vinha logo após problemas de saúde.
Ela mordia os lábios, inquieta ia de um lado a outro, adorava a seguridade que ele proporcionava, mas naqueles dias em especial, só a fazia irritar. Todas as vezes que tentava algum tipo de conversa, ele agia quase que da mesma forma, indiferente em relação ao assunto e a dava um abraço.
Por sua vez, sabia que não deveria agir assim, ela não era diferente a ele em relação a essa indiferença, a tristeza pairava no ar.
Meu bem, ela disse, estava desamparada, não teve como continuar a frase, ele a fitou por um instante, olhou em volta, a cidade já estava apagada.
Dezessete minutos foi o tempo de lhe beijar a testa, apagar as luzes, sair de lá e chegar em sua casa, foi também o tempo dela se apagar.

terça-feira, novembro 24, 2009

Cela.

Ficou sem dormir por dois dias, e por mais que se sentisse cansado por mais que ficasse na cama, nada acontecia, fechava as janelas, passava horas a fio ali. Sentia que possivelmente seria o único no mundo com aquela capacidade nem tanto formidável. Não via nenhum ser humano a algum tempo, o casal do noticiário não contava. Ele sequer conseguia distinguir as palavras que eles diziam intercalados com imagens que estavam turvas diante de seus olhos. Era algo de infância, sempre teve insônia, era algo horrível mas que com o tempo se tornou acostumado a tudo isso, pudera também, com trinta e oito anos já não se dava ao luxo mudar seus princípios.
Batidas à porta, se perguntou quem era, tentou se levantar, não agüentou o peso de suas pernas, foi de frente ao chão, estirado, como se por um segundo perdeu os sentidos, mas como as batidas na porta continuaram ele voltou a si, abriu os lábios, como esperado não tinha forças para falar sequer uma silaba, decidiu então fazer o máximo de força, de duas uma, ou chegava à porta e via quem era, ou dormia, e como internamente implorava para que a segunda opção fosse a uma. E então se pôs a rastejar, e notou que era extremamente bom nisso, se sentiu com vinte anos novamente no seu ano a serviço militar, fazia isso diariamente e inexplicavelmente não tinha esquecido nenhum movimento. Já havia saído do quarto, tinha agora o longo corredor até a porta de entrada, por mais impacientes que fossem as batidas à porta elas não paravam, sentia uma certa disposição em espera-lo, e continuou, cotovelos e pulsos seguidos dos joelhos, essa era sua seqüência, sua missão, seu sono inexistente até então, continuava escondido, era a melhor trincheira do mundo, pensou consigo mesmo. 
A porta se via cada vez mais acessível, o sol que entrava por meio da janela da sala, os raios de sol cegavam seus olhos, pensou em cobri-los já que fecha-los não adiantou muito, mas sabia que tinha que continuar com sua seqüência mecânica de braços e pernas, a curiosidade era seu combustível naquela hora e nada mais lhe importava, quem seria? o que queria? Estava ao pé da porta.
Por fim acordou, ao olhar no relógio e viu que esteve dormindo por vinte minutos, e gargalhou por ter conseguido sair de sua cela rastejando e ter confundido do corredor da penitenciaria pelo de sua casa, mesmo que por sonho, passou mais um dia feliz.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Ar.

Estavam sentados há mais de quinze minutos, o ônibus já saía da cidade e entrava na rodovia. Não , não se falavam, mal trocavam olhares, e cada um media esforços para não fazer qualquer tipo de contato, mas era claro que o oposto de tudo isso acontecia quando o outro olhava para o outro lado. Ao redor ninguém notava o que se passava bem ali ao redor. Estava frio, ela mesmo estando do lado da janela não fechou o ar condicionado, levava consigo um casaco e se cobriu com ele, o rapaz por sua vez nada tinha além da roupa do corpo e pela chuva que caia na estrada sabia que não teria um fim de noite tão bom, ela tinha fechado os olhos, ele ficou um tempo a observando, nada de concreto passava em sua cabeça, naquele momento se perguntou se devia fazer algo, não chegou a nenhuma conclusão, por fim decidiu fazer o mesmo que ela, abaixou um pouco mais sua poltrona, ela mal se mexia, podia até dizer que estava sonhando, virou a cabeça para o outro lado e fechou seus olhos.
Na estrada pequenas curvas ao longo do caminho fizeram com que as pernas dos dois se encostassem e ali encontrassem alguma forma de calor, e ele mesmo sonolento, achou bom, e continuou com aquela forma de contato, ela algumas vezes mexeu os braços pra arrumar de melhor forma os casaco que estava sendo usado como uma manta. A chuva apertava cada vez mais, olhou as horas num relógio prata do pulso dela, eram quase oito da noite, já não se via mais o sol, sorriu, não soube porque, mas o fez.
Estavam em um grande curva, já era a cidade que tinha como rumo, no primeira esquina, com a diminuição da velocidade, a maioria das pessoas acordava, ela não foi diferente ajeitou os cabelos novamente, olhou as horas, se espantou pela noite ter chegada desavisada, deu um suspiro, mal olhou para o lado, mas notou que ambas as pernas estavam juntas, quase que um carinho disfarçado, nada fez, continuou daquela mesma maneira.
As luzes se acenderam, ele ficou estático, não sabia como reagir, ao contrário dele sabia exatamente como se portar naquela situação, ao menos parecia, ao chegarem na rodoviária, se decidiu, levantou pegou sua mochila e saiu sem olhar para trás, sabia que nunca mais a veria, pra ser franco nem a conhecia, passividade o irritava. Ela foi a última a descer,despreocupada já pensava no próximo.

terça-feira, novembro 17, 2009

Aparelho.

As pernas cambaleavam, no relógio da rua ainda marcavam três e quarenta da manhã, impossível, sabia que não era coerente com a imensidão de coisas que haviam ocorrido naquele banco. Horas antes, ambos combinaram de se encontrar, ele como sempre escolheu o lugar e ela as horas, aparentemente isso transparecia a tranqüilidade que na qual a relação seguia. Ele sempre chegava antes, não gostava da idéia de ter outras pessoas esperando por ele, e não via problema algum em esperar pelos outros, ela raramente olhava as horas, felizmente ele não ligava. Aquele dia em especial seria diferente, teria que ser.
Na semana que havia passado, nenhum dos dois agiu como de fato normalmente o fariam, ele atordoado por um sentimento de incerteza de um futuro concreto, ela pelo contrário, tinha certeza do que queria, algo tanto quanto conflitante com a situação atual dos dois. A praça era confortável a ambos, era ali que tudo tinha se iniciado e não voltavam lá a certo tempo. Escolheram para sentar um lugar com sombra, ela estava de branco, cabelos soltos, ele também usava branco e o mesmo surrado tênis.
Como de costume estavam abraçados, seus braços lhe faziam tão bem, e nessa hora tudo lhe fez sentido, ali juntos sentados, o que sentia não era nada confortável como de costume, a frieza reinava, e por aqueles segundos se deu conta que nada mais seria o mesmo. O sol já estava de despedida quando ela resolveu dizer o que se passava, não era da índole dela, não conseguia ser má, tampouco pensava em trazer mal a ele, mas sabia que não era algo exatamente certo para aquela fase de sua vida, com um discurso planejado conseguiu obter as mais inesperadas reações, ele estático, pela primeira vez desde que tinham se conhecidos, o viu ficar sem palavras, e quando ameaça falar algo, apenas os lábios se mexiam, e um som inaudível porém esclarecedor saía dali.
Ainda tinha certeza de que aquilo precisava ser feito, mas ela não agüentava parecer ser a única a proporcionar aquele momento a ele. Foi fraco, ele mesmo já havia cogitado a possibilidade de estar desse outro lado da conversa meses atrás, mas por sorte achava, não conseguia se distanciar dela, os momentos bons sempre sobressaíam a certas desilusões. Nesse meio tempo a culpa lhe tirava o ar como um garrote estivesse apertando sua garganta. Não tinha escolha, um bloqueio mental o amaldiçoava, e podia ver pela face dela que também não estava feliz com aquilo tudo, mas uma satisfação fugia do por trás dos olhos. Tinha sido um erro achar que todas eram igual a ela, lhe provava a cada momento, e não ele não notava.
E por algum motivo as pernas cambaleavam, ela tinha ido embora, por volta das onze da noite, ele não teve a capacidade de se levantar, e nem acomodado permanecia por lá, já não era mais o estático, mas a dor tinha se tornado algo físico, estava em um situação complicada, não conseguiu formular e argumentar nenhuma palavra com ela, e agora não sabia mais ainda se teria a sorte de vê-lá novamente. seu aparelho celular tinha tocado cerca de cinco vezes desde de que ela havia deixado a praça, não teve vontade de tira-lo do bolso até então. Tocou novamente, resolveu ver apenas quem era, nem sinal dela,e mesmo que houvesse, não era algo que desejasse. Desligou o aparelho no mesmo momento que um carro parou do lado da calçada daquela distância não reconhecia quem era, sua miopia e implicância com óculos não o ajudavam nessas horas, para sua surpresa, não tinha idéia quem tinha saído do carro, era uma garota pelos seus vinte e um anos, que escolheu um banco à frente de seu carro e começou a escutar música, estava ali apenas relaxando.
Nada mais justo, nunca se importou com “dores” alheias, não seria hoje que algo diferente disso lhe aconteceria com ele, e continuou ali sentado mais tempo do que imaginaria e que precisava.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Via.

Não sabia mais o que era perder, em mais ou menos um mês a única coisa que realmente sabia que estava perdendo era o seu próprio tempo. Não dizia que era mal utilizado, muito pelo contrário a perda se dava porque é algo inerente a todos, do relógio ninguém ganha. Total insensatez, mesmo assim não estava satisfeito. Vitória, em si estava o cercando em quase todos os aspectos terrenos, assim que imaginava quão seria bom que algo acontecesse, era questão de pouco tempo para que tal ato se realizasse, no início era interessante, quando isso se tornou rotina começou se tornou um peso. Nada a mais lhe trazia satisfação, sua expectativa sobre novas possibilidades estavam dia pós dia mais baixa. E seguia assim inconsolável, mesmo precisando não comentava isso com ninguém, claro, o chamariam de lunático, piadista, quem não gosta de vencer afinal?
Tinha certeza que ele não. Até porque nada lhe trazia mais desespero, na verdade, isso trazia, porque não perdia mais? Para quebrar essa constante foi jogou até na loteria, sim, ganhou. Preferiu parar por ai, mesmo com milhões na conta bancária, continuava trabalho, e o mais estranho, não contou a ninguém, ninguém mesmo, esposa, filhos, pais, nada. E deixou aquela conta intocável. Por algum motivo não se achava merecedor daquela dádiva, nunca em sua vida deu valor ao que não vinha do trabalho duro. Ninguém desconfiava, deixou claro ao seu gerente que ficaria ali na poupança e recusou todas as propostas rentáveis de aplicações em fundos estrangeiros. Era complicado não sabia ao certo o que queria, só tinha certeza que não era aquilo.
Por intermédio das oportunidades e ao tédio que estava instalado, resolveu voltar a testar a sorte, se perguntava onde estava o acaso, ele que tornava tudo tão impressionante já não dava às caras a um certo tempo, e ele era imprescindível à vida.
Era um domingo, tinha ido à padaria buscar leite para à semana, foi sozinho, pegou seu carro, nem tão velho nem tão novo, colocou um disco que que estava do lado da porta, bossa nova, estava tranquilo, dentro da padaria ainda encontrou um amigo de faculdade, foi sucinto, se despediu e saiu, decidiu voltar pela orla da praia, em meio, a um ato de desilusão daquela vida que levava, virou deliberadamente o volante de forma brusca e entrou direto na outra via.
Colidiu, em um ônibus pegando passageiros, nada aconteceu, tirando leves riscos na lateral do carro. O que mais lhe feriu foi a idéia de não perder mais nada.

quinta-feira, novembro 12, 2009

Balcão.

Ele assentiu com a cabeça, preferiu não utilizar palavras, pegou o copo e o virou, álcool dificilmente fazia efeito nele, era de família, pelo pouco que lembrava dela. Como esperado ela estava corada, sua pele clara reluzia tons vermelhos noticiando a fraqueza que a bebida lhe proporcionava era claro que ela não estava acostumada com aquilo. Achou melhor e mais fácil não perguntar por que ela estava bebendo, sentiu por certo a perguntar se queria outra dose. Ela não o escutou estava estática olhando para a rua, o efeito rápido do conhaque tinha levado por hora a sua sobriedade. Ela se virou disse que não, mas uma cerveja lhe cairia bem, e pediram ao mesmo tempo. Um quê de riso ameaçou aparecer em sua boca, mas teve certeza de que não era o momento certo, estava preocupada, nunca tinha notado esse ar de tristeza em seus olhos castanhos, nem claros eram, mesmo assim não tinha a capacidade de parar de olhá-los fixamente. Ela suspirava a cada gole, seu egoísmo ainda reinava, tomava seu copo em puro silêncio, ela por sua vez parecia estar mais calma, revelou seu estresse, tinha sido demitida. Foi um tiro, saiu direto dos lábios dela e atravessou sua cabeça, achou estranho o coração reagiu de maneira normal, mas sua razão tinha ido por água abaixo, não sabia mais se a veria e sim, não sabia ao certo da razão disso, mas se importava.
Nesse meio tempo notou quanto de si mesmo tinha mudado em detrimento à ela, e mal se conheciam, a única coisa que podia afirmar dela era seu nome e que seu corpo lhe atraía demasiadamente. Por ela ficava em lugares lotados, era forçado a convivência humana, ás vezes até se divertiu, não, não era mais o mesmo, que lhe trazia apenas bons sentimentos. Sentiu que era hora de tomar alguma ação, jogou vinte euros no balcão se levantou e quando estava pronto pra dar as costas e sair, ela o segurou pelo pulso, fui pego ele pensou, e ao mesmo tempo teve certeza que ela pensou você não tem idéia, aqueles olhos não eram capazes de mentir.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Calçada.

Era notável quão desumano conseguia ser. Eventualmente percebia que agia assim, não ligava, se todos o olhavam com maus olhos, que olhem. Sua memória atuava de maneira memorável, acontecimentos inesquecíveis para algumas pessoas se perdiam facilmente em sua cabeça, porém simples acontecimentos diários, detalhes tão simples como tremidas de lábio das pessoas em seu redor nunca lhe saíam da cabeça, essas lembranças ficavam estampadas no seu cotidiano.
Estava sentado em uma manhã de outono, tomava seu café com as mesmas três torradas amanteigadas no mesmo bar de sempre, e achava impressionante como o Seu Luís estava ali dia após dia servindo em seu bar, ficava maravilhado com a constância daquele senhor, já era de idade, e em todos os dias que tinha começado a tomar seu café da manhã ali, ele não parecia ter envelhecido nem um pouco, já ele mesmo tinha as faces corroídas pelo tempo, até entre os fios pretos de virilidade já eram notados alguns novos vizinhos brancos. Não ligava tinha tudo que precisava a seu dispor, seu emprego público lhe provia todo o dinheiro necessário para uma vida fantástica, casa confortável, viagens ao redor do mundo, e o número de mulheres que queria por noite. Nunca teve uma família após abandoar a própria, jamais chegou a ligar ou deixar seu endereço, simplesmente arrumou as malas numa tarde de inverno e deixou a casa. Era mais fácil assim, relacionamento humano lhe deixava mal, e só o fazia quando extremamente necessário. Era de outro país sentiu conveniente deixar o Brasil, em Portugal tudo era mais tranquilo, e sim as pessoas eram menos humanas, controlava tudo de maneira simples aqui, pessoas eram simples e renegavam contestar qualquer tipo de autoridade, e isso ele impunha de forma maestral, tinha quem quisesse a seus pés, só não acontecia isso com ela, e sim, pra ela ele ligava, não era como se agora quisesse constituir uma família ou coisas do tipo não suportava ter a idéia dela o perto o tempo todo, mas quando a via, como queria sentir ela de perto, devora-lá, definia isso como uma tara, como aquelas que você sente quando criança por algum tipo de comida, mas pelo que se lembrava nunca tinha passado por isso. Era assustador, agia de maneira diferenciada perto de sua presença, era sutil, media cada palavra com receio da repercussão de cada uma delas e todo caminho até os ouvidos escondidos por trás dos cabelos louros tanto quanto encaracolados. Percebeu que precisava daquilo e toda sua influência, desumanidade e dinheiro não a trariam pra perto dele, sentia desconforto, estava desnorteado. Todo dia após o expediente voltava ao bar de seu Luís e pedia uma cerveja, era algo horrível para ele, muita gente, muito barulho, mesmo com o desconforto continuava ali dia após dia, ela sempre passava pela porta do bar, sempre antes de ir embora, e ele fazia questão de sentar no mesmo lugar e ficar olhando para a calçada, a maioria dos dias ela nem notava, até que um dia, por algum motivo desconhecido ela se virou e entrou no bar, se sentou de seu lado, disse um oi rápido e pediu uma dose de conhaque, a virou no momento que a mesma chegou, virou pro lado e disse, mais duas e um ameaçador me acompanha?

quarta-feira, novembro 04, 2009

Aceno.

Era evidente que estava parado, estagnado em seu cotidiano, je déteste la technologie, gritou em alto e bom som, toda aquele revolucionário desenvolvimento tecnológico só lhe transparecia que não estava vivendo a sua vida, sentia que todos a sua volta, sem exceção estavam estavam tendo momentos maravilhosos e únicos. Tirou o microcomputador da tomada, olhou a sua volta, se viu num amontoado de coisas espalhadas pelo chão, viu que não pertencia mais ao lugar, tinha perdido o controle. Levantou a persiana, que já não fazia desde de que tinha instalado a uns dez anos atrás, a luz veio como flechas dentro de seus olhos. Não reagiu, deixou que todas entrasse, e foi cego por alguns instantes, valeu a pena, era notável a vista que ele havia abdicado, além do panorama urbano percebeu que tinha vizinhos, na edificação frente a sua, existiam pessoas e varandas, uma a cada a andar, duas mulheres conversavam por lá quando o notaram levantando sua persiana que fez papel de parede por tanto tempo, elas lhe lançaram um sorriso, mal pode disfarçar sua surpresa, mesmo desajeitado levantou uma das mãos e fez um aceno envergonhado, elas deram um certo riso e voltaram a conversa. Constatou de fato estava preso numa realidade alternativa, surreal para ser definida com mais clareza e se indagava demais, pra tudo, antes de toda e qualquer ação, percebeu então que a vida não é simplesmente um jogo de adivinhação.

terça-feira, novembro 03, 2009

Inútil.

Já sabia de tudo isso quando voltaram a se falar, ela talvez por afeto ou descuido, ele definitivamente por afeto, não passava, o consumiu por tanto tempo e era presente até hoje. Não era a mesma coisa, agora diferentemente de antes, eram como velhos amigos mesmo se conhecendo a não mais de dois anos, quando se sentavam lado a lado, olhavam parar o horizonte para contar suas visões de mundo, era óbvio que ambos tinham versões totalmente diferente e as defendiam até o último suspiro, e por parte era isso que fazia aquele pequeno momento que passavam juntos tão especial. Penetravam na alma um do outro com uma simples troca de olhares, isso instalava nele um certo receio, e para minimizar possíveis atos do inconsciente, simplesmente evitava essa troca. Ela por sua vez se equilibrava em sentimentos de incerteza, mas tinha como característica ser instransponível, logo por for fora parecia sempre sorrindo, mas sem conseguir esconder certa preocupação que ia dos lábios mordicados às piscadas bruscas, ele sempre fora bom em ler pessoas, geralmente nunca perdia em jogos de carta ou atividades que necessitavam tal habilidade, mas nada podia fazer frente a esses indícios. Passividade era algo que o irritava tanto, e se ver desse lado da moeda o entristecia, sabia que não podia continuar assim, o tanto de momentos que estavam sendo desperdiçados por pura falta de ação, e sabia que não dele, a ele cabia a escolha de esperar ou não, o mais sensato seria o não, mas nem sempre o mais sensato é a coisa a ser feita, repetia essas palavras a si mesmo diariamente, claro que era uma queda livre de cara ao chão todos os dias, e antes de dormir repensava todos seus passos. Ela também não era a mesma, um simples movimento a mais denunciaria a mulher que se tornara, aos olhos de quem estava de fora parecia que não sabia se planejar e se entupia de tarefas por escolha própria para não ter tempo nem de pensar em si mesma, mas para si era algo extremamente necessário só dava valor ao descanso após ter sido produtiva, e não faltavam meios à sociedade para que ela fizesse isso, ele a compreendia, fazia da mesma forma, se forçava a sempre estar fazendo algo, sempre, mesmo nas noites de domingo relaxando em sua cama, as idéias não paravam em sua cabeça, girava, girava, tanto a ponto de sentir-se fora do chão, era inútil, sabia que sem foco nada valia a pena, quando todas lhe diziam se afaste e a maioria das vezes dava certo, ao menor proximidade dela, largava tudo e todos, e fazia daquele o único foco instantaneamente, sempre errava.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Reta.

Quando entrou no carro, fechou a porta e colocou a chave na ignição. As palavras ainda ressoavam na sua cabeça, saiu dali, era começo de tarde, pós almoço quando as pessoas num domingo estão alojadas em seus sofás conversando, vendo televisão ou simplesmente dormindo, ele não, ao largar as ruas e entrar na estrada sua mente pode descansar um pouco, mas a frase ainda estava lá, tomando o espaço entre o vazio que as rodovias lhe proporcionavam, na hora sentiu uma vontade de trocar seu destino e ter pego um barco, por mais que a idéia de ser dirigido por outra pessoa por algumas horas fosse horríveis para ele o mar o acalmava, só de olhar era o bastante, quando estava sobre ele então era a melhor medicina. Não iria dar meia volta agora, trocou estações de rádio a esmo, não achou nada a seu gosto, que estava completamente sofisticado, chato em outras palavras. Pegou um cd riscado embaixo do banco nem acreditava que ele ainda estaria ali, pela data marcada à caneta pela própria mão, já faziam cinco anos, cinco anos, e como mágica sabia de cor todas as letras das músicas, pelo retrovisor era visível certo sorriso no canto dos lábios enquanto cada palavra saía de sua boca. Todo o arrependimento instalado até então nele havia se esvaído. Foi quando percebeu que não eram só as letras das músicas que estavam em sua cabeça, mas as ditas antes de entrar no carro, o desespero foi tão grande que soltou as mãos do volante por um instante. Teve certeza de que a pessoa que lhe disse aquilo estava errada, e por isso estava tão inquieto, deixou de ser quando o carro foi de encontro à árvore. “Todas as curvas são retas”.