quinta-feira, outubro 29, 2009

Patente.

A manhã se via fria como a maioria delas tinha sido naquele mês de outubro, enquanto caminhava não notou em nada no caminho, sua visão estava ali mas não presente, só os tons de cores lhe faziam sentido, tal deficiência na hora lhe deu certo riso, passou pela última rua a ser atravessada, estava confiante, não sabia como, por dentro tudo em que acreditava estava desmembrado e por fora estava ali com um sorriso certo e o queixo alto, a manhã havia passado como o vento. Nunca atrelava a culpa a alguém, esteve focado a manhã toda, no momento que chegou em casa apagou, se fez necessário o uso do despertador para voltar à vida, nessas três horas que esteve mergulhado no subconsciente, foi tudo escuro, absurdos cento e oitenta minutos de puro desligamento, e isso era novidade também geralmente tinha ótimos sonhos ainda mais mais quando dormia menos, por hora esse pensamento lhe fez mal. Não era fácil traçar um panorama decente e agradável para sua vida se tudo continuasse daquela forma, ruim.
A tarde tinha ido rápido a lua já havia conquistado seu lugar no céu, sai de casa novamente, agora com ainda mais vontade, o vigor transparecia em sua face, era inerente a isso também, agora a mesma falta de foco na visão lhe trazia o único riso que daria por essa noite, dessa vez o vermelho dominava, se sentiu um touro e quis mesmo que por um minuto sair de tudo que lhe estava imposto e ir de encontro mesmo com a cabeça para todos os pontos que tivessem tom de vermelho.  Por um minuto se deixou levar, marcou o ponto de referência, ainda desfocado, e foi a seu encontro, seu revés foi que a indústria automobilística haviam parado de fabricar só automóveis pretos.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Endometriose.

    “E, por ouvi-la incessantemente, não a escutam. Não há necessidade de ouvi-la.”
Partiu desta premissa no momento em que parou de ler seu livro, seu sonho de criança e a realidade na qual estava instalado eram inversamente diferentes. Mesmo assim, não desistia, o que procurava agora ao invés de mundos distantes, vilões de revistas em quadrinhos e ao mais tardar garotas, o que ele queria agora era algo nunca antes visto, era essa sua única meta.
    Premissas são interessantes, no seu caminho de saída parou na cozinha e tomou meio copo de água, o virou e deixou pela borda da pia. Pegou suas chaves e deixou o seu mundo só com as vestes do corpo, alguns trocados e um certo brilho nos olhos. O mundo lhe tachava de coitado sempre o zombou do minuto em que nasceu até hoje, não deixava que isso lhe tirasse o sorriso de sua face,  o leilão que era feito com suas emoções por cada um que conhecia não afetava, de verdade, diziam três, e ele sempre optava pelo dois, e nessa levada as horas, dias, anos passavam, já tinham ido trinta e cinco, era justo e ao mesmo tempo firme, o tempo sempre se despede antes do esperado e nem sempre tão caloroso. Chegando ao térreo, saiu de sua morada, foi diretamente à banca de jornal, não comprou nada além de um cartão postal, não tirava fotos, sempre teve na vida prazer de ter que voltar aos lugares pra ver as coisas novamente,  mas dessa vez teria que ser diferente, sabia que voltar aquela cidade seria complicado demais, e não arriscaria ficar sem uma recordação, por mais sutil que fosse, virou o postal e logo escreveu a data ali mesmo com uma caneta que estava ali a deriva. Seguiu caminhando, nunca teve um carro, ora por falta de dinheiro ora por falta de vontade, mas sempre andava com sua habilitação na carteira. Andou até chegar no Banco Federal, passou pela porta giratória de vidro, abriu a blusa, mostrando explosivos e gritou em alto e bom som:
    -Todos ao chão, não quero explodir ninguém hoje.” Ele tinha dom para certas coisas, um homem tão calmo, não se deixava influenciar pela tensão em volta no ar, e por toda essa calma, pode-se afirmar que ele foi uma das únicas pessoas no mundo capazes de assaltar um banco e sair de lá da mesma maneira que entrou, caminhando, tinha tanta confiança em si que achou melhor desta maneira, continuou em linha reta dali até a rodoviária, como esperado ninguém o seguiu e não teve problemas em comprar sua passagem, iria para longe não por medo, tinha que fazer aquilo, não a via faziam nove anos, e continuaria sem esse certo prazer.
    Tinha subido em sua carreira de forma assombrosa e de forma estranha a outros olhos, tinha uma ideias inovadoras em gestão e com isso adquiriu influência suficiente para fazer quase tudo que bem entendesse, mas nunca saía de seu peito certa carência de algo, algo que mesmo influente e admirado não conseguia, e partindo do ponto que não sabia ao certo o que proporcionava tal falta de ar, entrou num mundo onde não há volta, parou de se policiar e deixou que a ganância tomasse conta de si, colocou sim o dinheiro frente a tudo, inclusive pessoas, claramente que seu em seu mundo agora tinha se tornado único exclusivamente próprio seu já que todos que o habitavam tinham tomado agora certa distância, os poucos que ainda como continuavam perto dele, como ela, mesmo não sacrificando tudo por ela e aquele sorriso que ele quase gostava mais que o poder proporcionado sabia que este era o que fazia se sentir ótimo. Claro que ninguém atingia tanto dinheiro de forma justa, o chamavam de corrupto, logo aos vinte anos seu apartamento era clássico como de pessoas em crise de meia idade, e por dentro se sentia velho também, e que tinha toda a experiência necessária para conduzir todas as variáveis ao seu redor. Estava errado, tinha sido demitido de seu cargo por justa causa meses depois dela ter se demitido do cargo de sua acompanhante, nada fora do especial, conduziu tudo com sobriedade.
    O ônibus saia as nove horas, tinha quinze minutos, adentrou e foi até o fundo, colocou a maleta com dinheiro no compartilhamento superior, e se sentou, a vista da rodoviária era sempre a mesma quando deixava um lugar, uma certa tristeza atrelada a nova emoções. Porém hoje sentiu algo em sua barriga, por um momento sentiu certa diferença na barriga, como se algo estivesse lá, riu quando pensou na idéia de que pudesse ser um filho, e a partir dai sentiu medo. Não se lembrava deste sentimento, o sofrimento causado por tal sentimento era pior que nadar em um mar infestado de navalhas. Se realmente fosse um filho o que sairia de lá, pelo cordão umbilical alimentaria algo não humano, aquela criança não seria nem de longe como as outras, realmente tinha dias que se perguntava, como podia ser tão frio e diferente de outros humanos, simbólicamente não tinha ídolos, modelos a ser seguidos, como poderia ser alguém assim, como todo pai é para com os filhos, ele mesmo pouco se lembra de seu pai, tinha sim se criado sozinho, aos sete começou a trabalhar e com sua força de vontade e seriedade abandonou sua casa assim que pode, e a família nunca lhe fez falta, nunca se falavam mesmo, suas memórias caseiras eram sempre sua mãe ao telefone com certas intenções estranhas e que talvez fossem as repostas por seus desaparecimentos diurnos, e de seu pai, sempre chegava cansado do trabalho como metalúrgico abria uma ou duas cervejas dormia frente a televisão por meia hora e depois ia para o quarto. Isso fez com que nada para ele fosse importante, teve sempre a noção que seu mundo era o que ele fazia com isso, se livrar do ócio e cada momento ser único e mais tardar valioso. Mas tinha certeza também que tudo que lhe davam suas características não eram valiosas aos olhos da massa, ganancioso, corrupto e orgulhoso, a partir dai só teve uma certeza em vida, seu filho seria um César Bórgia.

quarta-feira, outubro 21, 2009

Transtorno.

Totalmente desestimulados subiram ao palco, atuaram como nunca, péssimos, diziam todas as críticas jornalísticas do dia seguinte. Seguiam como atores, e aproveitavam da publicidade negativa para atrair novos espectadores, não podia ser tão ruim quanto diziam por ai, podia?
Desesperador, era a palavra que melhor descrevia o momento de ambos, que por simples ironia continuavam implicando, a casa de teatro só não os mandavam embora por falta de peças interessadas, custava mais caro a limpeza após de casa peça do que a renda obtida dos ingressos. Era toda quarta-feira cerca das dez horas ou até que dez pessoas comparecessem, não tinham texto, um certo roteiro tinha sido feito uma vez, mas nunca mais lido, a peça nascia e morria ali naquela noite, e sentimentos reais eram falados sem se policiar, cenário, figurino? Nunca, ambos sempre se apresentavam com roupas do corpo e ás vezes somente com partes intimas, o mais importante era mesmo a sensação de realidade causada.
E todos esperavam até o fim, sempre perto de duas horas, com acréscimos dependendo da intensidade de ambos, no fim estavam suados, cansados, e sempre com leve sorriso no canto dos lábios.
Ah como ela gostava dessa feição, fazia questão de repetir toda semana todo esse ritual, mesmo acompanhada de seu amado, não era fácil ficar o tempo todo acompanhando vinte dois homens correndo atrás de uma esfera.

terça-feira, outubro 20, 2009

Descrito.

Você reclama e não faz nada pra mudar. Essas palavras continuam ecoando em sua cabeça quando ela já tinha parado de falar, mas ambos permaneciam ali, no quarto, tinha certeza que aquele cômodo já tinha sido mais alegre, pelo menos para ele, agora pairava no ar além da incerteza do amanhã, o receio atual de não se entenderem mais, ele sabia que ela só dizia verdades, a honestidade foi a primeira coisa que lhe atraiu nela, além da certeza em todas as vezes transparecia quando ela dizia algo, era fascinante. Ela continuava o encarando, aqueles olhos castanhos sempre lhe diziam algo porém hoje as palavras só saiam por entre os lábios dela, eles queriam dizer algo de novo. Você só se importa consigo mesmo e deixa a rotina te consumir, como você pode ser tão passivo? As palavras vinham como punhos de encontro a sua face, sua esquiva sempre tão boa em lutas agora deixava passar tudo, não que quisesse escutar aquilo, mas precisava, pouco a pouco estava saindo do estado de torpor induzido por si próprio e impreterivelmente a voz dela lhe fazia sentido. Não sabia mais onde morava, ao fundo continuava escutando Tchaikóvski, olhou rápido para o relógio, notou que estavam ali há dezessete minutos, o suficiente para que toda a tensão iniciada por ela se esvaísse e o tornasse um animal, faminto por sinal, mas ele era cauteloso, sabia que era mais fácil ser devorado que efetivamente devorar, não a conhecia suficientemente, e nunca achou que fosse realmente conhecer algum ser humano, ela mudava constantemente, e hoje não era diferente, estava cansado disso, por mais que gostasse que ela apontasse suas falhas, não suportaria ver alguém em situação pior lhe dissesse como levar a vida, se levantou não estava em casa, a deu um abraço apertado, se segurou firmemente e não disse nada, a beijo-lhe a testa, sabia que seria de certo a última vez, se afastou devagar fazendo que os dedos se desentrelaçasse devagar, sentiu um certo aperto, mas o mesmo ainda era com um ar de despedida, virou rapidamente, sabia que subitamente aquelas feições o fariam ficar por ali mais, tempo abriu a porta. Ela falou novamente, algo como se oferecesse pra ir junto até o portão. Ele não recusou, assentiu com a cabeça, ela voltava à abraça-lo, ele como havia sido descrito minutos antes aceitava passivamente, por mais complicado que tivesse sido se largaram, ao passar do portão a primeira feita foi desligar seu telefone, estava a caminho da rodoviária, é por mais infantil que fosse a idéia, pegaria a o primeiro ônibus, mas não pra qualquer lugar, secretamente alimentava essa idéia a certo tempo, iria para casa, mesmo sem saber onde ela estava.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Reflexo.

De frente ao chão novamente puderam perceber, palavras transformaram o que seria uma tarde agradável numa noite interminável. Diferentemente de todos, era ali o mais articulado quando não se tratavam de emoções, toda sua eloqüência se esvaia tão rápido quanto um guardanapo caindo do colo de uma moça em seu primeiro encontro. Eles continuavam ali com ele, sem ao certo sem saber o que fazer e se havia algo a ser feito, impassível, ele também permanecia ali. Foi quando algo aconteceu, sentiu num momento inusitado algo diferente, aconteceu de forma tão rápida, que ali não teve como processar tudo, nem era sua intenção, raro isso acontecer, sempre pensava ter controle de tudo que estava a sua volta, se não o controle mas sabia o que se passava, era sempre assim que naturalmente as coisas aconteciam, ali naquele momento, sentiu algo diferente, de forma inesperada palavras, elas que antes tinham tornado o tormento inicial tinham agora um poder tão forte que reverteram o acontecido em certa alegria. Mas como dito anteriormente foi rápido, apesar do tempo de não processar, não teve como continuar, a dúvida então tomou o lugar da fresta de felicidade.
Pena janela já podia se dizer que era mais de três da manhã, era bom com horas mesmo sem nunca estar com um relógio em punho, uma vez tentou usar um de bolso, com o qual se adequou, porém ao fim da bateria nunca o levou a alguém para troca-lá. Seus observadores não pareciam estar ali, ele não tinha certeza, seus olhos estavam distantes, olhava para a televisão, mas estava a canais de distância daquilo, sutilmente virou os olhos, não ninguém mais estava por perto, sempre gostou de barulho para iniciar seu sono, e a televisão cumpria esse papel com excelência, dali podia até escolher o idioma com o qual adormeceria ou o nível de peso, geralmente deixava em documentários de civilizações antigas, não achava que aprenderia por osmose ou coisas do tipo, simplesmente eles diziam o necessário para um ótima noite de sono, pois entretiam na medida certa, a concentração necessária para que fosse desligado com calma.
Seus sonhos tinham voltado, era algo normal, eles se vão e voltam, quando voltam ficam por uma duas semanas, não era um peso, até ficava intrigado para que eles aparecessem, subconsciente, não acreditava nisso, só acreditava em momentos desapercebidos de seu dia fariam ligações extraordinárias em roteiros nunca antes imaginados por ele, mas não era dali que tirava suas idéias, segundos após acordar já tinha se esquecido de tudo, e mesmo fazendo toda a força do mundo não conseguia se lembrar de quase nada, o máximo era sempre o lugar e com sorte pessoas envolvidas, mas os acontecimentos, jamais, uma vez pensou até em dormir segurando um bloco de folhas e uma caneta, achou perigoso e idiota ao mesmo tempo mesmo não sendo um sonâmbulo, canetas não lhe traziam boas lembranças, sempre falham sempre, na hora mais importante, não estão ali, mas para rabiscos certas vezes inúteis sempre deixam seu rastros.
Por um minuto tinha se deixado levar por pensamentos e não sabia se toda a expectativa criada era válida, estava ali, sem poder sair e as vezes sem até querer, tinha poucas certezas em seu caminho, e elas não eram muito animadoras, não gostava de ser dominado, mas admirava isso, sempre com pessoas fortes, as que não eram continuavam sendo benvindas, mas nunca tiveram peso de verdade e mudaram seu mundo, humanos fortes, que falavam o que queriam sem se importar com represálias ou julgamentos, mesmo ele as tratando com indiferença não via mais sentido na vida, se não a de fazer o que se pensa da maneira que lhe fizer bem a cabeça, claro que era uma toada impressionantemente complicada de se encontrar, mas quando o fazia era fácil encontrar em seus olhos um sorriso e uma calma absoluta, por mais reversa que a situação fosse. Animação era toda contida em revés, sensacional como ele lidava com elas, em um primeiro momento sempre corria atrás de ajuda, para as coisas que em seu interior lhe traziam prazer, ficou extremamente constrangido quando se deu conta disso, nunca tinha conhecido pessoas assim, somente em estereótipos sem noção em algumas séries de televisão e filmes, não achava possível ser natural de uma pessoa essa conduta, não pode conter um sorriso falso frente a um espelho cheios de lágrimas, era aquilo que ele era, gostava daquele sentimento ruim, nunca tinha sido mimado, era orgulhoso, não se dava por vencido, por isso não entendia como era prazeroso ser pisado, mas não de maneira forçada, quando feito de forma sutil o tirava os pés do chão, isso fazia dias que se passavam em pleno silêncio outros que precisava gritar e fazer barulhos constantemente, não tinha sido por vontade de própria mas assim tinha construído sua rotina emocional, se olhava no espelho e de certa forma gostava do que via, até os lapsos de sentimento, o que deve ser normal para todos, nele tinham um efeito ridiculamente diferente, no sul de sua alma sentia um como se um trem passasse encima dele e como mágica, roubavam-lhe os sentimentos, se tornava frio e distante por meses, incapaz de se sentir melhor, incapaz de se sentir mal, o perturbava, mas não o tiravam o foco, algo fantástico em sua concepção, se permanecesse focado não necessitava de nada nem ninguém, mal sabia que o mundo para ele não funcionava assim, e permanecia ali trancado pelas janelas de sua alma, sem comunicação alguma com o mundo exterior, algumas vezes piscava e tinha certo contato, e eram eles que trazia certa alegria para sua vida, e continuava ali de lado, deitado esperando a sua vez.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Manual.

E não sabia se por ironia ou por amor, mas ele continuava ali preso. Preso em si mesmo, algemado as próprias memórias, boas e ruins, realmente não importava, estavam todas ali encarcerando e transformando o homem que agora ele mal conhecia em algo vazio, sim vazio. Mas nada era tão dramático quanto ele mesmo, e jamais deixaria que isso saísse de controle, pessoas ao seu redor, até as mais próximas não notavam ele diferente, ele fazia questão disso, mesmo não sendo a mesma pessoa e dificilmente se reconheceria como era anos atrás, talvez meses, se fez continuar numa levada na qual não há volta, contudo saída ainda existia. Sabia bem que quando as coisas começam da forma errada nada se pode fazer para mudar esse patamar, logo o fim pra si sempre teve certeza que era o inverso, tudo sempre acabava bem, se não está bem é porque ainda não está no fim, se lembrava de sua avó que sempre lhe disse isso, secretamente levava isso com ele diariamente como se fosse um lema, não que mudasse muita coisa mas tinha vários desses de frases jogadas ao acaso por pessoas com qual mantinha contato, a mais importante e que todos os dias precisava ser feita era o sorriso, a cada manhã tinha como que uma missão, fazer algo que lhe rendesse um sorriso, contido nisso nunca procurar alguém para culpar nas coisas que aconteciam, sim friamente tudo que acontecia tinha uma razão, e mesmo que a razão de tudo fosse pois vinha de atos humanos e falhos, não culpava a ninguém, nem a si mesmo. Passividade e permissividade o dava título de tranquilo, de bem com a vida, sempre bem, bem é uma palavra que esconde sentimentos, ela retrata um estado não ruim, e ao mesmo tempo não bom, já que, isso sempre na cabeça dele, bem é algo que sempre pode estar melhor, ou seja nunca é o suficiente, se ao menos todos deixassem de lado e falassem a verdade sempre, que as vezes é desconhecida como no seu caso, coisas seriam muito mais fáceis. O cativeiro que ele se encontrava era obscuro e distante de tudo que já havia vivido, coisas dos jovens diriam os anciões e experientes que dizem já ter visto de tudo e conhecem as mazelas da vida, vida essa que o sufocava, não era demais se fosse pensar a fundo, mas que dia pós dia aquela pequena falta de ar fosse agoniante, nada se acaba até que se chegue o fim, fim que no qual o que tinha de esperanças ainda habitava, tinha medo do destino, tal idéia de que tudo já esteja planejado podia até fazer sentido, mas preferia ocupar sua cabeça em outras coisas, era um homem simples, de fácil compreensão, sem necessidade que se explicasse duas vezes, se fez assim sendo injusto consigo próprio, ninguém podia ser assim, manuais nunca funcionam.

Postal.

“E, por ouvi-la incessantemente, não a escutam. Não há necessidade de ouvi-la.”
Partiu desta premissa no momento em que parou de ler seu livro, seu sonho de criança e a realidade na qual estava instalado eram inversamente diferentes. Mesmo assim, não desistia, o que procurava agora ao invés de mundos distantes, vilões de revistas em quadrinhos e ao mais tardar garotas, o que ele queria agora era algo nunca antes visto, era essa sua única meta.
Premissas são interessantes, no seu caminho de saída parou na cozinha e tomou meio copo de água, o virou e deixou pela borda da pia. Pegou suas chaves e deixou o seu mundo só com as vestes do corpo, alguns trocados e um certo brilho nos olhos. O mundo lhe tachava de coitado sempre o zombou do minuto em que nasceu até hoje, não deixava que isso lhe tirasse o sorriso de sua face,  o leilão que era feito com suas emoções por cada um que conhecia não afetava, de verdade, diziam três, e ele sempre optava pelo dois, e nessa levada as horas, dias, anos passavam, já tinham ido vinte e cinco, era justo e ao mesmo tempo firme, o tempo sempre se despede antes do esperado e nem sempre tão caloroso. Chegando ao térreo, saiu de sua morada, foi diretamente à banca de jornal, não comprou nada além de um cartão postal, não tirava fotos, sempre teve na vida prazer de ter que voltar aos lugares pra ver as coisas novamente,  mas dessa vez teria que ser diferente, sabia que voltar aquela cidade seria complicado demais, e não arriscaria ficar sem uma recordação, por mais sutil que fosse, virou o postal e logo escreveu a data ali mesmo com uma caneta que estava ali a deriva. Seguiu caminhando, nunca teve um carro, ora por falta de dinheiro ora por falta de vontade, mas sempre andava com sua habilitação na carteira. Andou até chegar no Banco Federal, passou pela porta giratória de vidro, abriu a blusa, mostrando explosivos e gritou em alto e bom som:
"-Todos ao chão, não quero explodir todos hoje.”