terça-feira, agosto 04, 2009

Barulho.

     Acordou, se deu conta da manhã que estava perdendo enquanto estava em sua cama, a televisão não havia sido desligada na noite anterior, canal de animais, assasinatos de bisões passavam em frente aos seus olhos, detestava canais desse tipo, mas eram os que o faziam dormir melhor.
     Bestas se matando em busca do alimento de cada dia, sentia que a evolução humana não havia deixado isso de lado, apenas tinha modificado as aparências, mas a parte de um matar o outro a cada dia ainda estava presente na vida de cada um.
     Desolado foi para o chuveiro, sentou, ficou ali por uns quarenta minutos, o suficiente para que a fumaça tornasse complicada a exatidão de sua visão ali dentro. Escutou  batidas na porta, desligou o chuveiro, se enxugou, era sua mulher, mal teve tempo de limpar os olhos da neblina causada por ele mesmo, ela o abraçou, não falou nada além de um oi e o apertou com os braços tão forte, da maneira que ele sempre gostou. Ela havia voltado de viagem, ficara dois meses fora, não eram casados, nem namorados como diziam, mas estavam sempre juntos e juntos durante quatro ou cinco anos, ela não havia dito para onde ia na última visita, ele também nunca perguntou, levava o relacionamento assim e sempre achou que era o mais fácil.
     Durante esse tempo dela fora, ele que sempre se manteve indiferente, agiu de maneira diferente, ainda não sabia explicar porque, mas agiu. Comprou coisas que nunca precisou, deixou o impulso tomar conta de si em várias formas, até se permitiu conhecer pessoas novas, reviu velhos amigos, teve a sensação de perda de muitos sentimentos nesse período em que passou simplesmente trabalhando e dormindo resumidamente, já que em suas memórias poucas tinham sido as vezes em que riu só por rir, de velhos acontecimentos de seus anos anteriores.
     Ela ainda estava linda, e sabia fazer um olhar à ele que ele nunca conseguiu encontrar em nenhuma outra mulher, talvez o sorisso que ele fazia em frente a esse olhar significasse o mesmo para ela, talvez, nunca iria perguntar, medo de perder a magia e ao mesmo tempo, não importava, agora com ela de volta tinha certeza, não importa o que havia passado, tudo seria bom, não igual, mas bom.