sábado, março 26, 2011

Deriva.

As caminhadas tinham voltado ao normal, saía e não falava pra ninguém, ou se alguém perguntasse só dizia que tinha saído, pegava um documento a chave de casa e ia, pra onde não sabia ao certo, por entre ruas, árvores e postes, o silêncio reinava.
Já pensava demais, mas perdia muito tempo em certos tópicos deixava de lado outros muito mais importantes. Acertava de menos e errava demais, e por muitas vezes nem percebia, quão otário conseguia ser? Não fazia idéia.
Nada de luz naquelas ruas, nada nele também, chutava as pedrinhas do asfalto e olhava pra frente, não sabia prever o amanhã muito menos os anos futuros, a cada passo sentia que o tempo passava, a noite não se importava em esperar.
Voltava pra seu quarto, fitava o telefone, desistia, ia para outro lado, fingia beber água, segurava o violão mas não ousava tocar naquela hora, tirava os mesmos harmônicos de sempre, o colocava de lado e deitava, simulava o velho abraço no edredom, não conseguia se enganar mais e eventualmente dormia.
Recorrentemente iria ficar assim à deriva, seu peito tremia e assim afirmava, há tempos que estava assim e ainda se surpreendia, queria conhecê-la e eventualmente entender tudo que se passava entre os dois. Por hora sabia que valia a pena, só ela conseguia lhe arrancar os mais sinceros sorrisos, simplesmente queria poder dizer o mesmo.

quarta-feira, março 16, 2011

Sorte.

As horas não passam, o ônibus não anda, e mesmo assim ele não parava, sua mente em desacordo com seu corpo, noção e importância tinham valores confusos na sua cabeça. Não era questão de ganhar ou perder alguém, era algo maior, manter era palavra.
Não tinham um lugar pra si, nem podiam, talvez não se importassem tanto, sem aparências, sem máscaras, com o tempo todas as barreiras dele iam cair, sentia em si uma enorme confiança que era quebrada toda semana, dos males o menor, não iria se iludir tão fácil assim.
A rua estava ali, junto com a garoa, tinha um destino certo, chegou, sentou, passou um tempo ali, soltou palavras bobas, um abraço sincero, combinou coisas que nunca realizaria, criou e matou esperanças num piscar de olhos.
O copo acabava, suas preocupações aumentava, não era resolvido fisicamente tampouco o coração, buscava a garrafa, o enchia, dava risadas vazias e repetia esses passos com exatidão, logo não podia reclamar da mesmice afinal era bom em alguma coisa.
Já estava tarde, voltaria cambaleando pelas vias, deixaria a chuva de lado e voltaria para debaixo das cobertas e com sorte sonharia com ela.

quinta-feira, março 10, 2011

Frase.

O barulho dos cliques já eram tão sincronizados que podia criar músicas a partir dele, sobre a mesa junto com ele estavam a carteira, celular e  seus cotovelos apoiados. A luz só vinha de fora, por entre as cortinas passava um pequeno feixe dela, e aquilo o acalmava tanto, a plena presença do sol.
Por inveja sua cadeira soava também, nada magistral e obediente quanto seu adversário, mas estava ali presente. Sua mente girava naqueles dias, tentar prevê-la só servia pra se enganar, seus fones de ouvido desprezavam tudo que vinha de fora e como um filtro pré-selecionava coisas boas de que escutaria ao longo de seu dia.
Não estava perdido e solitário, mas também não descartaria esses dois adjetivos para descrever como passaria seus dias, sem si, sem ela.
Ao menos atuava bem, perdia um pouco de si próprio em cada oportunidade, procurava uma caneta em uma página qualquer, repassava dias, momentos, recados e começava a reescrever tudo, fazendo isso não conseguia ser tão forte quanto Chico, tentava apenas ser sincero, como se fosse fácil.
Ter noção de que agora ela pudesse escutar tornava tudo tão mais interessante e ao mesmo tempo aterrorizante, media cada frase, sentido e ainda assim sabia que não se expressava com a exatidão pretendida.
De uma hora para a outra fechava tudo, desplugava os fones de seu ouvido descia todos os andares e caminhava. Dali não tirava muitas conclusões, sabia quanto estava satisfeito, voltava para casa, a dizia boa noite e brigava com a cama para dormir e por poucas horas não pensar em mais nada, já que as outras dezoito horas do dia estavam reservadas para ela.

terça-feira, março 08, 2011

Bem.

Todos acham se conhecer bem, mas se esquecem de como verdadeiramente são em alguns momentos da vida, isso muda assim como as pessoas, ele mesmo não tinha muitas certezas, seu senso de significados era muito peculiar, loucura e aceitável andavam muito próximos, suas bases de noção eram muito próprias e obviamente ele mesmo não entendia e não tinha a confiança de passar isso a frente para outras pessoas.
Enquanto a estrada passava rapidamente por seus olhos e lhe fazia companhia tinha um sentimento soberano em si, ao mesmo tempo que muitas coisas novas, e boas, aconteciam ele queria estar seguro de si e dela. No fundo podia ser franco e dizer que gostava um pouco daquilo tudo, um pouco de tensão, uma falsa sensação de liberdade que ele não estava procurando mas parecia cair bem para ambos os lados.
Não ficava tão óbvio assim, mas isso lhe ocorria frequentemente, tinha receio de pedir mais dela do que ela estava disposta a oferecer e com isso vê-la esvaindo por entre seus dedos lhe provocava arrepios e insônia. Sabia também que o que ele oferecia tinha que ser sempre melhor, tinha em mente que era repetitivo e por muitas vezes monótono, fazia pequenos exercícios pessoais para que isso não acontecesse frequentemente, mas tinha certeza que falhava diversas vezes.
Deixar que uma rotina se constitua faz com que se crie uma confortável e chata zona de segurança que pode ser despedaçada como um vidro e também mostra que o medo de tentar novas situações procure desculpa no comodismo.
No horizonte já avistava o começo dos arranha-céus, a fuligem e fumaça já estavam em contato com seu pulmão, mas nada perto da ansiedade de outro órgão poucos centímetros acima deste, só podia pensar em uma coisa, saudade.