quinta-feira, junho 30, 2011

Mineral.

Tudo caía com uma facilidade extrema, não conseguia segurar nem com muito esforço, belo resumo do dia pensou.
A porta fechada, luz apagada, cada coisa no seu lugar, não devia nada a ninguém colocava o corpo sobre o colchão, esticava o braço ligava o rádio, esbarrava o olhar nos livros, pensava em uma desculpa qualquer e voltava os olhos para cima, maldito teto branco.
Nem ia comparar aqueles dias com falta de de sorte ou algo pior, estava muito frio para tanto, a música dava um ar mais alegre à toda aquela situação, solfejava as letras e quando não sabia acompanhava as notas, ninguém queria imaginar, ninguém sequer perderia tempo pensando nisso, somente ele, água pelo chão, metade chuva outra metade mineral, tudo normal aparentemente.
Sabia que suas frases eram longas, e no mínimo mal formuladas, mas insistia em tantas coisas e não era nisso que mudaria. Procurava a coragem, sempre achava ela fácil, se tornava um problema quando usava de maneira infantil, e não eram poucas vezes que isso tinha acontecido, tantos acontecimentos estranhos e até surreais que queria estar dormindo este tempo todo e acordar em uma realidade mais aprazível, na verdade queria estar dormindo agora.

quarta-feira, junho 29, 2011

Cortina.

Já tinha passado da meia noite, o que tinha em mente era não entrar em contradição, o tempo brincava com a ferida, o que restava dele ali?
Navalhas não fariam um estrago sequer comparado aquele peito, a lua ria de tudo isso acima deles, não era questão de movimentos e sim de sentimentos, o peso continuava ali, nenhum conselho servia, nenhum outro caso se aplicava.
De companhia só a chuva, fumaça saía de seu nariz era apenas o frio, ele também estava presente por ali, fato, sua memória era péssima em vários aspectos já em outros preferia nem comentar.
Nostalgia é negar que o presente é aceitável, é mergulhar entre memórias e eventos que nunca ocorreram daquela forma e mergulhar de olhos fechados em algo bom, nela.
Nem por isso tinha mais o orgulho em declamar que fazia isso, mesmo nunca parando de fazer.
Podia relaxar mais sim, mas ficava imaginando demais, não era feliz em tudo que fazia ou podia fazer, mas o que sentia era verdadeiro, mesmo querendo se estrangular ou simplesmente rir o dia afora, pensava como o coração acelerava cada vez que ela segurava em suas mãos e ali, e ficava pensando, se ela era capaz de despertava sempre sentimentos novos e ao mesmo tempo sentia medo e coragem à seu lado como ele sempre conseguia ser repetitivo, previsível e patético.
Queria te ver, sentar, conversar deixar o tempo passar, tirava os fones de ouvido e fitava o silêncio, deixava a cortina fechada desde então e sabia que se privar de tudo não levaria a nada, continuaria assim mesmo assim e entre um sonho e outro viria algum decente.

segunda-feira, junho 27, 2011

Sofá.

A graça é não sentir o gosto, é se perder de tal forma onde nada faça sentido e você consiga continuar sorrindo. Sentado ali cada gole doía, repuxava a garganta, segurava a tosse e levantava os lábios, ali ninguém merecia o ver de verdade.
Nada de leilões, qualquer esboço de ruptura já mudava tudo, não era só ele que se encontrava assim porém não encontra mais ninguém ali, o couro repuxado do sofá mostrava que ali já estiveram muitas outras pessoas, mesmo assim de quente só sua cabeça. Provavelmente era febre, não se daria ao trabalho de medi-lá e deixar que a preocupação roubasse lugar do sono. Eventualmente ela iria embora, todas iam e a lembrança de hospital já não era tão boa, coquetel de medicações aliados com tudo que estava naquele corpo, não parecia que fosse caber tudo.
Levantou dali decidido, pegou outra lata, andou por círculos por uma série de vezes, ninguém existia ali, qualquer contato visual rápido não era assimilado. Descia as escadas, passava a mão sob seu pescoço, nada normal, mil surpresas a espreita e nenhuma dessas interessava.
Oo olhos passavam longe de transparecer simpatia, jogava água, limpava a cara, escondia a olheira, fechava a porta e apagava tudo novamente, era uma arte, viver sem saúde e sem boa vontade, no rosto só sinceridade, no peito somente saudade.

quinta-feira, junho 23, 2011

Avião.

Todos os dias passavam tão rápido, o outono já havia terminado e pelas ruas felicidade pelo seu quarto nada demais, algumas garrafas pelo chão, a luz apagada, olhava pela janela e pensava não era tão ruim estar ali.
Nenhuma dúvida que tinha feito escolhas certas evidente que convivia com o que podia, não escolhera nada apenas aceitava.
E tão certo quanto a gravidade tudo corria bem e sim sabia que voltaria a ser aquele que desprezava, desta vez sabia que não era mais pela facilidade mas pela indiferença, a camada de impessoalidade um tanto quanto espessa novamente era criada. Nenhuma novidade, os dias passavam tão vazios quanto ele como se isso fosse possível, grandes novidades eram suprimidas pelo momento, pela primeira vez talvez pudesse dizer que entedia a malaise, o mal-estar o consumia e sempre mais uma contravenção pela frente.
Simplesmente não saber dizer mais não valia como argumento, por entre batidas novas a única que sentia falta era do coração dela. Buscava em outros discos inspiração pra construir algo melhor em si, se embriagava na preguiça e se apoiava na falta de tempo pra tudo, não que fosse mentira, mal tinha tempo para dormir e estava atolado em projetos pessoais e impessoais, tudo valia a pena. Só precisava de um prazo e os estímulos vinham de toda essa pressão.
Caminhar ainda tinha o mesmo gosto, novas paisagens mesmos sentimentos, seria tão previsível assim? Seus passos alternavam entre a calçada e a grama, de um lado o trânsito caótico da capital de outro a serenidade de uma lagoa, contraste tão bacana quanto as estrelas e as luzes do avião sobre ele.
Tão ruim quanto isso era sempre a sensação de estar vivendo a vida de uma outra pessoa, nunca estar ou ter confiança e se dizer satisfeito, se não se importar ninguém se machuca certo? Iria esperar quanto tempo para que a vida lhe mostrasse que estava errado, não fazia ideia, mas de alguma forma já cogitar isso era uma pequena espécie de avanço.
De nada adiantaria reclamar pois tudo ia sob os conformes, cama, banho, rotina, rotina, rotina e quanto mais vivenciava isso menos fazia sentido, fugir não adiantava, ficar ali não era uma obrigação mas sim uma escolha, iria mudar ao invés de adiantar.

segunda-feira, junho 06, 2011

Carros.

Praticamente era uma pessoa nova, não era mais questão de sentido, aos poucos tudo caía, pela pia ficavam seus restos, algo que há alguns anos sustentava, sem qualquer parte emotiva fixada ali.
Talvez parecesse mais novo, continuava sem noção de quão ridículo podia parecer, não precisava mais de conselhos e sim de experiências, quebraria a cara quantas vezes fossem necessárias.
Mal via todos que queria, não só a distância, talvez o tempo, talvez vontade, se reservava direitos exclusivos, trocava quase tudo por uma xícara de chá.
De lado na mesa se esforçava e não conseguia olhar para fora, repousava a xícara sobre a janela, colocava sua cabeça para fora e apreciava o vento, todas as outras janelas, luzes apagadas, as da rua acessa e de companhia só alguns carros, todos apressados, todos com destinos, aparentemente.
Sabia que o silêncio ali era a melhor recompensa para si, não consegui cogitar mais mudanças, mesmo insatisfeito com o presente não via alternativas palpáveis num futuro próximo, talvez fosse simplesmente assim, nunca estava realmente ali e bom.
Traçava planos com uma certeza de que nunca estaria errado, pelo menos tentava transpassar isso, não tinha nem certeza de que camiseta usaria no dia seguinte ou se teria janta.
Sempre teve a confiança ao seu lado, jamais pensaria que por ali escapando das mãos dela perderia isso totalmente, irônico pensar que nas únicas horas que necessariamente precisava ser confiante ele não transparecia nenhuma, e por si só podia dizer que a fraqueza e as lágrimas eram revoltantes, deveriam ser apenas usadas quando roubam todos os pesos das palavras, não tinha sido o caso até então, todo esse drama, todos esses dias.
Fazer amizades era ótimo, mas antes de fazer histórias, queria vivenciá-las, sentir de verdade o gosto de tudo, se perder em abraços, sentir a batida de corações tão incertos quanto a noite.
Sobre isso sabia exatamente, não existe morte pior que o fim da esperança, não esperava mais nada de ninguém além dele, dali podia confiar na alegria e nas tristeza.