sábado, abril 23, 2011

Calor.

Nada como a água do mar, areia por todo o lado, só o barulho das ondas, nada disso fazia efeito nele, uma camada de insensibilidade reinava em si, olhava para os lados, só o horizonte ali no meio de dezenas de pessoas lhe fazia um pouco de sentido, além mar tudo parecia novo, novos problemas era disso que precisava.
Já era capaz de sorrir, bebia os problemas para longe, estava cansado de copos cheios e pessoas vazias, como o poeta da rua dizia.
Sempre calor, sempre quente, acelerava o passo, corria por ai, era o única maneira do coração bater mais forte naquela semana, e ele ainda respondia bem, o pouco que conhecia da endorfina passava por ele, sensação enfim boa, tinha muitas marcas em si, tudo isso e não tinha mais nada.
Pode ser que exista alguém no mundo que possa explicar o vazio que preenche o corpo, uma pessoa que exemplifique em uma receita básica que efetivamente funcione. Não acreditava mais que só um amor cura outro amor, no entanto a premissa que diz que quem chora agora ri depois ainda parecia sensata.
Desacelerava o passo, não agüentava mais correr o quanto corria com dezessete anos, mesmo assim ainda ia longe, disso tinha certeza.

quinta-feira, abril 14, 2011

Amor.

Todos somos únicos e diferentes, isso nos torna todos iguais em ao menos um aspecto. Havia desistido de dormir naquela noite nem tinha mais medo dos sonhos, simplesmente não precisaria. No fim tudo havia se resolvido, tiraram pendências e com isso os vínculos não seriam mais necessários.
Não existia tanta harmonia assim, seus olhos nunca mentiam, inchados e banhados em lágrimas molhavam a camisa, não se importava, não era de esconder nada.
Mesmo assim, tinha escondido todo o discurso previamente pensado, uma toda retórica pronta jogada por água abaixo, tinha muito a dizer, mas como sempre, deixou-a falar primeiro, e com isso desabou.
Queria ter tido coragem de antes de tudo, falar que não estava tudo bem, que não queria perdê-lá novamente, queria a segurar nos braços e dizer que ninguém no mundo o fazia mais feliz e que faria de tudo para que isso não acontecesse.
Não teve, escutou e ainda assim sentiu o golpe, a mesma mão confortável e acolhedora lhe suprimia o ar, não com com maldade, mas com uma sinceridade tão característica que ele concordava em não fazer nada, via a mulher de seus sonhos escorrendo por entre os dedos, e o máximo que conseguia fazer erar coçar a barba e respirar fundo, naquele momento já não era questão de coragem, enfim ela estava decidida e ele não estava nem um pouco calejado, queria tempo, queria refletir, voltar no tempo e mudar cada passo, não podia fugir da situação, queria adaptá-la a algo que não deixasse um vazio em seu peito.
Mesmo se ele falasse que ia embora e ficaria bem estaria mentindo, o coração tinha estacionado ali anos atrás e parecia sem forças de sair, provavelmente esse seja o problema, a dor invadia, as lágrimas caíam e ele sabia que não podia fazer nada.
No fundo ela não tinha culpa de tudo isso, tampouco ele, tomado pelo receio o tempo toda daquela relação não esteve nenhuma parte do tempo realmente seguro, ela precisava de mais, queria outros sentimentos, obviamente eram muito novos pra se prender assim.
Ele deixava o silêncio falar por ele, não podia expressar a raiva de ver algum de seus erros expostos ali, perdia a linha de raciocínio muito fácil, exemplificava eventos que não tinham relação alguma só para que não ficasse mudo o tempo todo.
A casa escura, o litro acabou tão rápido, devia ter comprado mais, sabia que eventualmente esse dia chegaria e por mais fútil que fosse a garrafa podia ser sua musa, mas nunca a substituiria.
Precisava de carinho, precisava dela, desta vez o medo era muito maior, não teria uma “segunda chance”, podia parecer pouco, mas quase um quinto da vida dele estava ali, e era aquilo. Poucas certezas existem quando se tem vinte anos, que amava aquela mulher era uma das únicas. E o pior, que hoje ainda ama, e o amor consegue ser extremamente ingrato, devia ter escutado todos a sua volta, devia ter agarrado ela enquanto pode, agora só restava lamentos, lágrimas e suspiros.

domingo, abril 10, 2011

Fundo.

O amor não dá garantias de nada, não parecia mais ser auto suficiente. O maior problema no entanto era que não conseguia suprir as necessidades dela. Não que fosse exigido mais que pudesse oferecer, mas no entanto não o que ela queria.
Não chegava parecer um pesadelo, mesmo assim tudo estava frio, distante, não tudo, o clima era quente, o começo do ano se mostrava comum fora os desastres ao redor do mundo. Recorria como sempre as ajudas mais fáceis, o silêncio e os copos.
Nada de julgar, pensar demais, abusos, nada disso. Não iria levar a nada, se perguntava como não conseguia entender aquelas necessidades e sequer de onde elas vinham. Muitas vezes teve certeza de que tudo ali não iria mudar, mas uma vez teria quebrado a cara.
Mesmo mais velho, um pouco mais experiente, talvez a queda fosse menor, talvez não. No momento já não lidava tão bem com tudo a sua volta, tentava tirar as coisas da frente, pouco assimilava de tudo e não recorria a ninguém. Por opção própria, claro que conhecia muitas pessoas, simplesmente não queria envolver mais ninguém naquilo, queria simplesmente parar de soluçar e achar uma solução.
Não ia simplesmente abrir aos quatro ventos de que estava carente, pois no fundo não era totalmente verdade, tinha em quem se apoiar, só sabia que ele mesmo não podia apoiá-la. Mesmo assim estava ali caso necessário e disso tinha certeza, estaria sempre ali quando ela precisasse, independente de tudo que eventualmente viesse acontecer.
E ele sim precisava dela, gostava disso, queria falar, queria ouvir, queria crescer. Precisava sim disso, queria encarar de frente a vida, não estava ficando nem um pouco mais novo. Ao menos o tempo não parecia passar tão mais rápido, de um lado agravava ainda mais a falta dela, tinha saudades diariamente e era nessa falta de que as horas transcorriam, cada semana sem ela demorava um mês em sua cabeça, não culpava ela, o máximo que os dois podiam fazer estava sendo feito. Seus olhos ainda vão brilhar sempre que olhar para aquele sorriso e vai desmontar a cada abraço, saudades.

quarta-feira, abril 06, 2011

Gripe.

Aqueles dias que apenas um abraço talvez resolvesse tudo, estavam cada vez mais raros. Um misto de receio com excitação um tanto quanto estranho, parecido de quando você está de meias e pisa no chão molhado.
Provavelmente pensou nela a noite inteira, não sabia, mas acordou com isso e ela na cabeça, por hora só deixava o vazio invadir, não iria encontrar a mão dela tão cedo, no fim não era triste somente saudoso demais.
Poeira pela casa toda, dezenas de tarefas a fazer e só conseguia descansar, não era gripe, mal estar, não era nada.

terça-feira, abril 05, 2011

Céu.

Se pegasse a caneta agora certamente se arrependia do que sairia de sua mão, pensou melhor, não era conveniente dizer para ele se acalmar uma vez que estava sempre calmo.
Ponderava tanto antes de emitir qualquer opinião, que quando necessitava de uma resposta, uma interação ao vivo sempre se expressava mal. Preferia dar uma resposta sabendo que estava errada ao ficar calado. Na maioria das vezes isso era um problema.
Não podia afirmar que se entendiam no silêncio, mas também não era um problema, antes assim do que mais problemas.
Um abraço e uma noite passava, nunca precisou de muito para seguir, parava, pensava, pela janela aviões passavam um atrás do outro, para onde iam todos?
Fitava o relógio, fechava os olhos e na esperança de ter avançado muito o tempo, abria os olhos e sem surpresa uns vinte segundos haviam se passado, provavelmente o recorde mundial de paciência, e como era paciente, nos dois sentidos na palavra, até certo ponto não achava mais que podia influenciar em alguma coisa, esperava, vivia até onde dava, de uma vez por todas teve a coragem de efetivamente “deixar levar”, agüentava aos trancos, mas funcionava razoavelmente bem, o bastante para que investisse nisso o que fosse preciso.
Soluções escorriam por sua mente a cada minuto, sabia que não conseguiria levar todas elas a uma ação, e justamente agora que dependia delas para viver sabia que devia melhor empregá-las, ideias não são tão obedientes quanto achava, importante notar logo que elas começam a sair do nada, e não voltam, sua base é criada a partir do escuro e nele se sustentam, e uma vez explicadas mudam novamente, um jogo de luzes, talvez essa fosse a melhor analogia que fosse encontrar naquela noite.
Não tinha turbinas mas voava e longe, ia para o céu, encontrava a luz real e brutalmente descia a realidade, nada brilhante mesmo assim memorável, assim como o universo tudo aqui tinha que fazer sentido, valia a pena, tremia o peito, falta de ar característica dos dezessete anos, nada como uma pneumonia para lembrar a importância dos problemas, não haveriam mais mais explosões, o sol voltaria na manhã seguinte, não tinha certeza disso, e exatamente dessa maneira continuaria cativado.