sexta-feira, dezembro 31, 2010

Palavra.

Todos nós vamos cair um dia, não se sabe quando nem como, porém é fato que a queda é inevitável, assim como a chuva, o que muda a intensidade dos pingos é o vento e não a nuvem em si. Estava enjoado de si, naquele mês não faria nada, breve descanso para seu corpo, a barba já lhe cobria toda a face e não trabalharia de Noel, não trabalharia naquele mês afinal.
Se por um tempo estava certo de suas ações e consequências, esses últimos dias só serviram para ele perceber que esteve errado a maior parte de sua vida, tudo bem pensou rapidamente frente ao marasmo do fim de tarde.
Agora de fato sentia um desafio à sua frente, pensava tanto naquilo que suas noites eram facilmente consumidas sem que notasse, programas iam e vinha na televisão e ele nem se dava ao trabalho de olhar para eles, seus olhos estavam longe, nela para ser extremamente exato.
A distância era um forte incômodo sim, para ele, para os dois talvez não fosse, talvez, ele sabia dar valor as saudades, simplesmente sem ela não saberia como agir, o tempo é necessário para que a poeira se abaixe e com ela venha sentimentos que talvez não estivessem claros a uma primeira instância. Se ali notasse que efetivamente sentia uma falta dela, algo que por parte dele não pudesse ser preenchido, tampouco por outras, sabia que devia uma satisfação especial, e mesmo sem comunicar isso, fazia aquele pensamento estar grande parte do tempo com ela, imaginava e vivia situações dela com ou sem sua companhia, impressionante como nunca conseguia prever como ela responderia, mesmo os olhares, trejeitos e ações, tinha apenas uma palavra pra descrevê-la surpreendente.
E enquanto continuasse errando continuaria encantado, e por outro lado assustado por talvez não ser assim também, ser só alguém previsível e nulo, importante mesmo era não pensar tanto nessa segunda parte e gastar esse tempo pensando em maneiras agradáveis de evitar que isso aconteça.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Ator.

Impressionante, com toda postura ele ainda tremia frente aquelas situações, não precisava estar perto dela para não saber como lidar corretamente, como se existisse uma maneira correta de lidar com ela.
E fazia de tudo para transparecer tranqüilidade, e até certo ponto tinha sucesso nisso, ninguém duvidava dele a não ser ela, justo quem conseguia desmascará-lo apenas com um olhar, uma mordiscada no lábio ou qualquer outro trejeito característico que ele admirava tanto, muitas vezes nem precisava emitir nenhum signo e ele já entregava todos os pontos, seguia fielmente seu coração.
Ao passar dos anos sempre achou que essa sensação passaria, aquele pequeno tremor no lado esquerdo do peito nunca lhe abandonava quando ela estava presente, outras mulheres não chegavam nem perto daquilo, por muito tempo se perguntou se o problema estivesse com ele, após algum tempo já não tinha dúvidas que certamente era um problema próprio dele e os batimentos seletivos, e não conseguia abrir mão deste sentimento tão facilmente assim. Logicamente que podia viver tranquilamente sem  nenhuma emoção dessa, transparecer assim já era um início.
Felizmente nunca teve a pretensão de ser ator, sabia que a distância dela era inversamente proporcional aos seus batimentos, e nos últimos dias como tremia pelo corpo inteiro, um alegre taquicardia que por hora não precisava de nenhum tipo de tratamento.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Acalanto.

Fim de ciclos geralmente são dolorosos e refrescantes, a música nunca acabava essa era a verdade, ritmos e melodias que permeavam pelo cômodo, mudavam de minuto a minuto.
A verdade é que sem ser sentimental demais, sem ela ele não era ninguém, tão simples quanto a necessidade de um abraço, tão simples quanto Vinícius escrevera a tanto tempo atrás. O problema era pateticamente óbvio e mesmo assim sofria tanto com isso. A definição de sofrimento neste caso era única, pra variar esse sentimento era próprio e bom, diferentemente de todos, sabia que a vida em si era uma ilusão, e de quê adiantava toda essa melancolia sem dia para terminar, isso em si gerava por um lado alegria e por outro um grande aperto no peito, tudo na esperança de um sorriso dela.
Fatalmente errava, e como era bom nisso, apostas e atitudes erradas, tentava em vão esconder seu tormento, aquela mulher tão maravilhosa aos olhos dele mal sabia o carinho que ele tinha com ela. Com os demais, era a mesma pessoa desinteressante de sempre, velhas piadas sem graça, mesmos trejeitos, mesmas faces, um dos piores medos talvez fosse que pra ela transparecesse essa mesma imagem desinteressante, a qual não parece perceber que o tempo passa e com ele as pessoas também, fica a máxima, ninguém nunca esteve no mesmo rio duas vezes.
A vida só realmente existe para aqueles que se amaram, mesmo o amor não realizado é melhor que a eterna solidão, o que restaria além disso? Ele apaziguava tudo com um violão de lado, uma música qualquer, sem ideologias, verdades ou fatos, pedaços de arte por si só. Mais do que simples barulho, acalantos formados em minutos e esquecidos minutos depois, seu desapego era totalmente aceitável com isso, não largava nada fácil, por mais que o contrário fosse seu lado mais aparente para todos os outros.
Mentia tanto por fora que mal sabia quem era por dentro, sua cabeça doía quase que diariamente e a fome já era mais que uma companheira, abominava ela mas jurava não poder fazer nada contra a mesma, antes mal acompanhado do que só. Claro que essa última frase só fazia sentido contra a fome.

domingo, dezembro 05, 2010

Árvore.

Chuva interminável, sem pretensão de sair de casa naquela noite, naqueles dias em geral, todos os casacos molhados, e o guarda-chuva continuava fechado e inutilizado.
O seu marasmo emocional tinha feito as malas e tinha viajado para longe sem previsão de volta, “enfim” pensava consigo mesmo.
A janela aberta deixava mais do que gotas entrarem em sua casa, pelo menos era vida entrando naquele recinto, mesmo que fosse simplesmente água ali, esplêndida a sensação de frieza que ela adicionava ao local, deixou a mão sentindo os pingos por alguns minutos, logo após enxugou as mãos e se dirigiu a cama, como se fosse fácil.
Naquela noite o dia insistia em nascer rápido, mal havia deitado e podia escutar o barulho dos carros saindo pelas garagens para as ruas, tentava evitar isso com um travesseiro sobre sua face, a claridade também atrapalhava, mas com ela estava acostumado, até gostava de como incomodava suas pálpebra. Ao ponto que não sabia se estava acordado ou dormindo, não se importava, era domingo, podia simplesmente abrir mão daquele dia mesmo.
Sentia-se num deserto, diferente do que todos imaginam, ali tinha vida, por mais improvável que fosse no meio da imensidão de vazio e areia crescia sentimento, ficava claro que alguma vez choveu ali também, nada floresce sem estímulo pensava consigo mesmo, provavelmente estivesse errado, mas mesmo assim ali ele árvore seguia confiante em suas ilusões, pra Ténéré nenhuma botar defeito.