sábado, novembro 20, 2010

Cor.

Agora que todas as máscaras caíram por terra, o que mais sobrou dos dois? Ninguém arriscava algum palpite, tampouco os dois, ou melhor, diziam que nem pensavam nisso. Claro que ele falava da boca pra fora, não era simplesmente tão frio a ponto de não pensar nas consequências de tudo que estava fazendo.
Era horrível, um peso contraditório, de um lado tinha tudo que queria, mas com isso vinha a toda milhares de sentimentos e medos que não contava ao longo do tempo, o medo voltou a ser uma constante em sua vida, e como isso era bom.
Fingir que não tinha as cicatrizes do passado, e todas as dores tinham saído de seu corpo não era fácil, elas permaneciam ali, não entrariam em evidência em hora nenhuma, normal pensava consigo, até porquê não tinha mais o que falar, tudo que precisava ser dito tinha sido, mesmo assim memórias não se esvaem tão rápido quanto os copos de cerveja que aleatoriamente regavam seus fins de semana.
Não tinham mais uma música em comum, mas todo uma infindável quantidade de álbuns a ser explorados, shuffle talvez não fosse a melhor escolha para todos, pra eles talvez fosse a única certeza, melhor dizer talvez com certeza do que ter uma máxima incerta.
Era claro que não era só isso que aproximava os dois, a única mentira que contava pra ela era quando dizia que não sabia o que ela tinha de especial, sabia de cor e podia passar horas enumerando suas qualidades, só não queria deixá-la tão convencida disso e que fosse procurar alguém melhor para si mesmo do que ele.

quarta-feira, novembro 03, 2010

Xícara.

O chocolate continuava a esfriar na caneca, não que ele estivesse quente antes, só uma constatação óbvia visto que o frio ainda reinava nesta época do ano. Claro que assim seria melhor, de quente bastava sua cabeça naquela casa, tantos pensamentos borbulhando ali, se esqueceu da xícara por alguns instantes, claro que pensava nela.
Ao olhar pela janela, as ruas continuavam iguais, a cidade era a mesma e no entanto ele ainda olhava para ela com olhos de desconhecido, sorria para cada esquina, piscava a cada semáforo e achava sensacional, tinha medo que isso pudesse acabar um dia mas não estragaria sua visão temendo algo que não fosse bom.
Ao voltar para a mesa, o chocolate repousava tranquilamente dentro da xícara transparente, ao dar o primeiro gole a satisfação chegou dentro de seu corpo, não se considerava muito sensato, mas estava realmente bem. Uma vez que suas preocupações somente lhe diziam respeito, não tinha tempo para muitas coisas, claro que pra algumas delas sempre tinha tempo, por mais que os prazos se empilhem uns acima dos outros, sorrisos ainda valiam mais do que a razão.
As contas se acumulavam encima do sofá, tudo bem, ninguém sentava lá a muito tempo mesmo, nunca se importou como estava dentro de casa, o único atrativo, além da cama óbvio, eram as janelas. 
Quanto mais os carros passavam, se importava mais com a cidade do que com a possibilidade de seus cabelos ficarem brancos, não se achava altruísta, talvez fosse apenas um egoísta gente fina, talvez.