quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Porta.

Perdia a noção de espaço e tempo, surtava, ele não era assim, porque insistia nisso? A televisão continuava desligada a mais de um mês, só servia naquele quarto para acomodar a poeira por ali, de resto tudo era usado, só havia a cama e janela de sobra também.
A janela em si era a mais importante de tudo, de nada serviria a cama num cômodo fechado, sem ar, sem vida. Consequentemente surtaria mais vezes se não pudesse assistir as luzes indo de um lado para o outro naquela avenida, não necessariamente precisava daquilo para pensar, mas era um ótimo estímulo.
As tarefas aos poucos iam se empilhando na sua cabeça, mal administrava seu tempo atual, tudo que via ou escutava parecia ser algo bacana para se engajar, preferia lidar com o tempo desta maneira, descompromissado e ao mesmo tempo comprometido com várias coisas.
Então seria óbvio que talvez o pensamento nela perdesse um pouco de espaço na sua cabeça, óbvio mas errado, como sempre. E enquanto o pensamento existisse como um estímulo, tudo bem. Do contrário teria que redefinir suas metas e projeções, não que tivesse muitas, o que queria deixar claro afinal é que mesmo ela dando voltas, ia e voltava, ele tinha o peito com a porta aberta para ela, só bastava ela entrar e ficar.

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Verdade.

Tantas vontades, projetos cresciam diariamente em si, a única coisa que não podia dizer era que estava sofrendo de tédio. Com tudo convergindo e antes de ficar louco parou e talvez pela primeira vez na vida pode notar que nem tudo partia dele mesmo, toda sua vida tinha sido egocêntrico a ponto de se culpar ou vangloriar por tudo que acontecia a sua volta. Em todas as relações sociais nunca tinha levado em consideração opiniões e sentimentos alheios das pessoas que mais se importava.
O fato que ambos eram jovens, e com isso que era óbvio que não sabiam exatamente o que queriam, e se deixavam levar por todo o tempo que desse, ficava claro que ambos deviam rir e chorar com outras pessoas, vivenciar tudo que podiam, viajar, trabalhar, dormir, e tudo por si próprios não por outra pessoa qualquer. Ele por sua vez guardava ressentimentos, não era tão honesto quanto achava ela ser, nada que mudasse muito uma vez que não conseguia mentir só omitir, era bom em resguardar coisas sem que afetassem sua vida, e nem esperava nenhum tipo de recompensava ou castigo por isso fazia apenas por não se importar com muitas coisas, e como a verdade lhe machucava.
Se conheciam a um bom tempo, talvez até demais, mesmo assim não sabia ao certo como lidar com ela, começavam frases e movimentos juntos, mesmo longe. Ele sempre interrompia assuntos importantes com brincadeiras bobas, se perdia facilmente no raciocínio, repetia um mesmo argumento não válido uma série de vezes, por não conseguir em algo melhor, e mesmo assim, em qualquer situação, um sorriso e um beijo dela lhe abria a felicidade novamente e o coração dava uma pequena acalmada em seus batimentos.
Aquela chuva talvez se tornasse constante, todo dia raramente na mesma hora mas sempre caia. Desnecessário comentar que todo dia era atingido, nada de proteção pra si, estava acostumado com situações piores, por mais ridículo que fosse, sem ela não sabia nem chorar, e não é sempre que se sente a vida de verdade por ai afora, não sabia explicar, só sabia que sem ela só era desamor.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Avalanche.

Papéis estavam jogados por todos os lados, não estavam preenchido com melancolia dessa vez, achava que não, empilhados faziam companhia aos cadernos e por sua vez ao chão, péssimo contraste com o piso branco do quarto pensou, arrumou tudo e os jogou de uma vez dentro do armário, ali pelo menos não os olharia tão frequentemente e só daria atenção na hora certa.
O despertador rugia repetidamente, o dia não podia esperar mais para começar, assim que se levantou o sol já estava lá o esperando, o chuveiro sempre mais quente ou mais frio que o necessário só o desanimava mais para aquele dia.
No mais se entregava a si mesmo, qualquer hora era agradável para que pensasse nela, puro egoísmo, não era nem dono de si e tinha pretensão de um dia tê-la, não literalmente, o que estava fazendo lá o tempo todo, tinha perdido todo o controle, e sem notar sua vida tinha se transformado numa avalanche.
Emocionalmente não lidava melhor com seus sentimentos do que quando tinha dezessete anos, talvez por hora fingisse melhor, e com o passar do tempo via que talvez nem isso. Não tinha mais amarras, falava sempre que precisava e isso sim lhe fazia um pouco melhor, não mais correto ou experiente porém.
Se deixava perder na maioria das noites, limites que tinham sido impostos por ele mesmo tinha ido embora junto com o alaranjado da tarde.
Agora já era noite, de volta ao mesmo lugar que o dia havia começado, pra variar nada tinha mudado muito, esperava que no fundo isso não fosse verdade, e que a cada dia mudasse muito e que cada ato valesse, não era nada, nem livre, e sabia que preocupação não trazia tantas glórias assim.
Acertou novamente o despertador e o deixou bem perto dos ouvidos, quem sabe ele não trazia uma notícia boa pra variar em meio ao caos dos rugidos.