terça-feira, julho 27, 2010

Alívio.

Chega aquela época da vida em que todos parecem ter definido seu futuro, largaram suas casas e foram atrás de outro lugar pra ter algo que possa ser chamado de seu, a vida provavelmente começa nesse momento. Muitos se engalfinham por ai afora e tem alguém pra chamar de seu, ele mesmo não tinha aquela sorte. Os amigos de infância vão ficando cada vez mais para trás e a seriedade chega levando para longe o descompromisso da juventude, tudo se acerta um dia, pensávamos, e é certo que o futuro não reserva muito disso.
Ao entardecer daquele dia soube que seu próprio rumo não seria o mais o mesmo, não que tivesse um foco e alguma coisa planejada, tinha porém uma lista de nomes que com a qual pretendia continuar junto, essa lista nunca poderia estar certa.
Aquisições diárias e um dinamismo impressionante traziam um ar misterioso à velhice, sabia que ao passar dos dias conhecia mais pessoas e seu leque de possibilidades ia aumentando regularmente. Era saboroso sim por assim dizer essa sensação de poder frente ao desconhecido, porém era óbvio que isso não lhe trazia felicidade.
Defina felicidade, mais um problema em sua pequena existência na Terra, sabia reconhecer em memórias esse substantivo mas não conseguia projetá-lo e dizer o que seria num futuro próximo.
Repetição delas talvez trouxesse certo alívio imediato mas não era  resposta, de reprises vive o amargurado, se sentir assim por meses não era nada saudável.

segunda-feira, julho 19, 2010

Ziper.

Vontades, seriam elas passageiras? Depois daquela tarde achou que não fossem, não preferia que fosse assim, não escolhia mais nada em sua vida. Passou então a viver passivamente por tudo, aproveitando as oportunidades que lhe surgiam somente, nada de correr atrás do que efetivamente queria.
Aquela três por quatro dela continuava em sua carteira, um pouco amassada, ainda assim maravilhosa, poucas vezes tinha visto alguém realmente parecer agradável numa foto desse tipo, de frente num fundo branco sem nada para esconder.
Carteiras iam e vinham e continuava ali sempre no primeiro buraco à esquerda. Provavelmente aquela visão lhe fez bem por tanto tempo e talvez continuaria assim, mas não era verdade, e disso tinha certeza.
Aquela tarde relutou muito antes de depositar aquele retrato em outro lugar, não conseguiria colocá-lo no lixo, nem se livrar definitivamente dele, com o tempo chegou a conclusão, tinha que voltar para o lugar que esteve antes, voltou à sua cidade natal e na casa de seus pais, abriu seu armário, estava lá, intacto, mesmo após anos depois, em pouco tempo vasculhando achou a velha carteira marrom, com o mesmo ziper estranho que dificultava sua abertura, era perfeita.
O meio termo ali se fez justíssimo, algo tão pequeno que precisava ser mudado, pra variar não era a melhor opção, mas seguia sua vida conforme o ritmo, a dança, era hora de pegar a nova câmera e conseguir a nova três por quatro, a modelo poderia ser a mesma, só não sabia se teria a felicidade de encontrá-la. Vontades não mudam, pessoas mudam.