sexta-feira, agosto 05, 2011

Neve.

A música nem lhe ajudava mais concluir raciocínios, era um mar de catarse para todos os lados, de vários momentos de sua vida, nem achava mais possível tudo convergir daquela maneira.
Dormir voltava a ser um arrependimento, será que nem lá teria paz. Ficava ativo até os olhos entregarem o jogo, brigava um tempo com eles, mas eles sempre venciam e ao apagar ela acendia em si, por um lado não era ruim ter a companhia mesmo que imaginária.
Com o jornal na mão começava a cogitar que talvez não houvesse outros sonhos, pessoas e coisas. Ficava agitado com essa idéia, mal lia as notícias, com os olhos cansados mal diferenciava o negrito do regular.
Tão certo quando achou que quilômetros eram mais frios do que a neve, hoje sabia ironicamente que a distância pouco importava e eles mesmos a criavam, nem sempre a mesma para cada um, conforme a vontade e necessidade latente, sempre assim.
Podia mais naquela noite, queria mais, os goles gelados de certa forma esquentavam o corpo, por momentos sorria feito uma criança, mesmo sozinho, mal pensava em tudo, estaria em casa em tempo e de verdade, nem tratava mais tudo com esperança só com solitude.
Em suas costas repousavam tantas razões de que nem podia mais se considerar certo ou errado, maniqueísmo ali seria em vão, demônios nunca entenderiam o “tudo por nada”. Faria o justo, como sempre o decisor de tudo estaria ali mais uma vez com ele, mesmo tremendo nunca fugiria dali de seu lado, esquerdo.

quarta-feira, julho 27, 2011

Zoom.

Olhava para cima como se algo pudesse ajudá-lo, as nuvens dançavam no azul do céu enquanto sua mente girava pela terra.
Todos sabiam, ele não era assim, não conseguia definir mais nada, abria a janela, a fitava por minutos seguidos. Estava longe dali, apenas tirava da frente suas obrigações sem sequer pensar nelas. Esperar em vão o dia da resolução não adiantaria nada, seus dedos ganhavam vontade própria e assim faziam o que bem entendiam, ele só assistia aquilo tudo, mas até quando essa vista de camarote seria oportuna?
Mal podia notar seus próprios movimentos e os dias acabavam em um instante e as noites eram longas, cansativas. Se perdia nos séculos passados, mesmo não estando no mesmo lugar de sempre, gaguejava francês, sentia o frio de São Petersburgo e esperavam os barcos de Cartagena chegar, só podia estar ficando maluco, como se já não fosse o suficiente.
Algo que aos poucos tomava tamanha proporção não podia ser ignorado, gastava sua produtividade em horários errados e depois ficava entregue ao alento, não saía mais pelas ruas, não pelo frio,  mas pela canseira.
E por ela deixava tudo de lado, quando se está assim, nunca está pleno, sólido. As olheiras tinham incorporado tão bem à sua face que pensava  já ter nascido com elas, a procura de substantivos fúteis tropeçava entre vielas estreitas da razão, luzes apagadas, zoom instaurado, não achava ninguém, não procurava ninguém, só olhava para todos os lugares tão vazios quanto ele.

quinta-feira, julho 21, 2011

Notícia.

Não tinha nada de errado com ela, ele que era uma péssima companhia, sabia que algo estava errado e deixava passar, não sabia como agir e deixava que o tempo resolvesse. Portanto não se fazia necessário, via a felicidade transparecendo sob o rosto dela, sabia que tinha dúvidas, problemas e mesmo assim ficava de mãos atadas e como num jogo de cartas marcadas sabia bem onde tudo terminaria, desespero e péssimas memórias de sua omissão, prazer esse era seu cartão de visitas.
Virava copos tão rápidos quanto as catracas do metrô, mas nada girava, lia seu nome em tantos lugares que tinha horas que simplesmente aceitava a loucura, não pensava em compartilhar isso  com ninguém.
Tudo fazia sentido, nela que pensava, ela era quem via, mesmo em outros rostos, ninguém conseguia com exatidão roubar aquelas qualidades, só sua loucura impunha esses contrapontos a razão.
De amor pra amor, a porta não abriria, não haveria mais olhares, ninguém se envolveria, quem haveria cansado e abusado da regra onde menos vale mais? De primeira vez, ele tinha derramado as lágrimas, com o passar do tempo sabia que não haveria perdão que não cansasse de perdoar.
Com a maçaneta trancada e as janelas abertas sentia um pouco da liberdade, olhava os aviões pela noite, longe, alto, tão cheios de razão, com a vista panorâmica podiam desdenhar de qualquer aventureiro perdido, afinal o amor deveria ser mais que lágrimas e remorsos, só precisava disso, uma boa notícia.

terça-feira, julho 12, 2011

Miopia.

“Não era disciplinado por virtude, e sim como reação contra a própria negligência; parecia ser generoso para encobrir a mesquinhez, que se fazia passar por prudente quando na verdade era desconfiado e sempre pensava o pior, que era conciliador para não sucumbir às próprias cóleras reprimidas que só era pontual para que ninguém saiba como pouco lhe importa o tempo alheio.”
Fechou o livro, apagou as luzes, não precisava de mais nenhum barulho naquela noite, a sensação de abandonar o livro era horrível, precisava de mais histórias, mais pessoas se perdendo pelo amor, defrontando toda a existência da razão, queria qualquer um que não fosse ele.
Histórias alheias podiam conter todas as emoções e reviravoltas intrigantes necessárias para uma vida, queria a sua tranquila, tinha em mente que nunca conseguiria isso.
Acordou, no mesmo minuto de todos os dias, esperou que o despertador também acordasse para começar tudo, igual como sempre, padrões por toda volta, mesmo tempo de banho, mesmas ruas, mesmo chocolate quente. Aquele mês não estava sendo solidário consigo mesmo.
Sua casa estava mais parecendo uma porta malas de trem e não só ela estava totalmente desarrumada, nada realmente estava ali de verdade, só de passagem, assim como ele de longe tentava avistar tudo, sua miopia não deixava.
Mesmo assim não faria nada para arrumar sua vista, tinha se apaixonado por tudo desta maneira, sem definição, sem menores detalhes, o todo, mesmo que embaçado era fascinante por si só, abraçaria quem precisasse e passaria todas as noites assim, seguindo somente sua vontade desconhecida, por meses até quando suportarem ele.

quarta-feira, julho 06, 2011

Elevador.

Mais impune que seus passos era seus pensamentos, embriagado nela e na ideia da vida sem ela, as noites eram bem dormidas agora as manhãs o atazanavam, já fazia parte de sua nova rotina cogitar como ela estaria, acordava digitava os números sem mesmo olhar, começava a escrever e ai se dava conta de que não podia fazer aquilo, quarta vez naquele mês, a gravidade era cinco vezes mais forte que o normal quando estava para apertar o botão verde, mesmo assim não era mais forte que ele.
Impedimentos nunca foi novidade para ele, vivendo com aquele salário a vida em si era uma liberdade, preso a horários e impedimentos agarrava tudo que podia com uma convicção desumana. Parava e refletia, talvez não gostasse de tanto de tudo assim, talvez não gostasse de ninguém, ela era o mais perto que esse sentimento tinha chego.
Se perdia no elevador, ao mesmo tempo que descia, seus olhos estavam longe, algo não estava certo, o bom daquele lugar era que diferente da maioria não tinha espelhos, podia perder toda a descida dos andares consigo mesmo, raramente parava para a entrada de mais alguém.
Queria poder continuar acreditando nela, fugia de todas e não conseguia se livrar do amor, algo que possivelmente nem existia mais ainda o deixava ali, perto, preso, preocupado, inerte.
A porta abria o frio voltava, o céu nada fazia, o sol nem machucava mais os olhos, cara fechada pela rua, ninguém lhe distribuía os sorrisos de volta mesmo. Quanto mais caminhava pela cidade menos apaixonado ficava por aqui, a infraestrutura própria ficava cada vez mais seletiva, dela boas memórias e um futuro incerto.

quinta-feira, junho 30, 2011

Mineral.

Tudo caía com uma facilidade extrema, não conseguia segurar nem com muito esforço, belo resumo do dia pensou.
A porta fechada, luz apagada, cada coisa no seu lugar, não devia nada a ninguém colocava o corpo sobre o colchão, esticava o braço ligava o rádio, esbarrava o olhar nos livros, pensava em uma desculpa qualquer e voltava os olhos para cima, maldito teto branco.
Nem ia comparar aqueles dias com falta de de sorte ou algo pior, estava muito frio para tanto, a música dava um ar mais alegre à toda aquela situação, solfejava as letras e quando não sabia acompanhava as notas, ninguém queria imaginar, ninguém sequer perderia tempo pensando nisso, somente ele, água pelo chão, metade chuva outra metade mineral, tudo normal aparentemente.
Sabia que suas frases eram longas, e no mínimo mal formuladas, mas insistia em tantas coisas e não era nisso que mudaria. Procurava a coragem, sempre achava ela fácil, se tornava um problema quando usava de maneira infantil, e não eram poucas vezes que isso tinha acontecido, tantos acontecimentos estranhos e até surreais que queria estar dormindo este tempo todo e acordar em uma realidade mais aprazível, na verdade queria estar dormindo agora.

quarta-feira, junho 29, 2011

Cortina.

Já tinha passado da meia noite, o que tinha em mente era não entrar em contradição, o tempo brincava com a ferida, o que restava dele ali?
Navalhas não fariam um estrago sequer comparado aquele peito, a lua ria de tudo isso acima deles, não era questão de movimentos e sim de sentimentos, o peso continuava ali, nenhum conselho servia, nenhum outro caso se aplicava.
De companhia só a chuva, fumaça saía de seu nariz era apenas o frio, ele também estava presente por ali, fato, sua memória era péssima em vários aspectos já em outros preferia nem comentar.
Nostalgia é negar que o presente é aceitável, é mergulhar entre memórias e eventos que nunca ocorreram daquela forma e mergulhar de olhos fechados em algo bom, nela.
Nem por isso tinha mais o orgulho em declamar que fazia isso, mesmo nunca parando de fazer.
Podia relaxar mais sim, mas ficava imaginando demais, não era feliz em tudo que fazia ou podia fazer, mas o que sentia era verdadeiro, mesmo querendo se estrangular ou simplesmente rir o dia afora, pensava como o coração acelerava cada vez que ela segurava em suas mãos e ali, e ficava pensando, se ela era capaz de despertava sempre sentimentos novos e ao mesmo tempo sentia medo e coragem à seu lado como ele sempre conseguia ser repetitivo, previsível e patético.
Queria te ver, sentar, conversar deixar o tempo passar, tirava os fones de ouvido e fitava o silêncio, deixava a cortina fechada desde então e sabia que se privar de tudo não levaria a nada, continuaria assim mesmo assim e entre um sonho e outro viria algum decente.