quarta-feira, junho 30, 2010

Disso.

Descobrir o verdadeiro valor das coisas e perceber que talvez elas tenham um norte totalmente diferente do seu. Sua noite começava mais uma vez da mesma maneira, sozinho com um velho caderno à deriva, a caneta estava no chão a pelo menos três dias, junto com ela o telefone. A única luz do quarto vinha do televisor ligado no mesmo canal de sempre, mal olhava para ele, não era uma competição justa com sua janela, sempre aberta sem nenhuma persiana, a elegância das estrelas perdiam para poucas coisas.
Decidia aos poucos a que hora levantaria, aquela segunda-feira estava com muito cara de domingo, talvez porque estivesse desempregado, pouco importava, se alongou rapidamente e pulou da cama, não havia ninguém em casa tampouco na geladeira, ficou satisfeito em encontrar um garrafa d’água pela metade, incrivelmente gelada, como gostava disso, a frieza passava garganta abaixo e gelava seu corpo por inteiro, adorava o frio.
Olhou em sua volta e percebeu que naquela cidade certamente o maior carinho que teria em sua noite seria sua própria cama, nada agradável visto que já havia passado ali grande parte de seu dia, sentou-se no sofá, olhou as paredes em sua volta e logo foi tomado por uma suposta agonia, existia combinação pior do que a solidão e a certeza de merecimento? Chegou ali por suas próprias ações e inexplicavelmente por seus próprios desejos, sua testa tremia frente a recém chegada dor de cabeça, voltou a geladeira pegou a garrafa d’água com o pouco que faltava e colocou na cabeça e se deitou por um pouco mais.
As gotas escorriam pela face, um pequeno alívio se tornava presente ali. Nada mal pensou as dores continuavam tudo convergia e acontecia menos ela, não conseguia se livrar, nem queria, aquele sorriso maravilhoso em conjunto com a blusa vermelha, charme aliado a frieza, dispensava qualquer edredom por ela.
“Não se esqueça disso, te amo” últimas frases daquele caderno que o qual todas as palavras anteriores e posteriores podiam se resumir nesta frase.

quinta-feira, junho 24, 2010

Justiça.

Claro que era mais fácil simplesmente virar e falar tudo o que sentia, mas isso simplesmente não teria efeito, nesses últimos anos vinha de tempos em tempos mostrando seu descontentamento, parecia nada a adiantar, por vezes achava que estavam mais próximos mas na mesma semana esse sentimento ia por água a baixo. O certo é que nenhum dos dois sabia ao certo como agir e se devia agir, ele principalmente.
Notável como era simples notar que quando ela falava ele só conseguia admirá-la, lhe falta ar a a maneira que seus lábios mexiam, a suavidade de sua voz, os movimentos dos olhos em harmonia com os das mãos. Em sua cabeça só podia ser ela a mulher de sua vida, mesmo assim era sensato. Se só ele sentia isso aparentemente ele não a merecia, por mais que isso o machucasse demais parecia ser a verdade e o mais justo.
Odiava essa justiça mais que a distância entre os dois, porque assim sabia que não fazia sentido morrer de amor por alguém que não sinta algo parecido por si, e sabia que o inverso disso também era verdade pois estivera do outro lado algumas vezes e agiu da mesma forma que da qual estava sofrendo, e demorou muito tempo para perceber isso.
Se esqueceu que a alegria da vida era simplesmente se abrir, novas ou velhas experiências não importavam muito o importante era vivenciá-las, rir e amar com quem seja, o sorriso sim era importante, o sorriso havia ido embora a muito tempo e sem previsão de volta, infelizmente.

quinta-feira, junho 10, 2010

Brinquedo.

Ter a certeza que você não faz mais diferença e a noção de que sua presença nem é mais desejada, era desta maneira que sentia que a relação dos dois havia se tornado. Como era difícil aceitar que ela podia ser feliz ele, plenitude em outros pensamentos, só ele se perdia com ela ainda.
Já é madrugada e ele simplesmente não dorme, não acorda, fica num estado de preguiça e de suor, nada confortável, possivelmente se perguntando, como ela podia estar tão diferente, se ela mesmo dizia que ele não a conhecia mais, o que ele mais queria era poder conhecê-la novamente, seus passos, curvas, danças, e tudo mais que ela oferecia que deixava seu lado esquerdo do peito palpitar.
O telefone continua ali de lado, tinha quatro números dela ali, não ia ser inconveniente odiava pensar que talvez estivesse sendo, ainda mais com ela, não fazia sentido, o importante é que fosse natural, como da primeira vez, sem arrependimentos e sem rumos e pretensões, acredite, como era infeliz sem saber dela.
Sozinho, esteve assim boa parte de seu tempo sem ela, e que por amor queria sorrir novamente, com ela não havia medo de mencionar essa palavra, colocava tanto peso nela que nunca conseguiu dizer essa mesma palavra para outra pessoa com um sentimento parecido, não que o sentimento devesse ser o mesmo porém ele tinha certeza que não conseguiria sentir daquela forma com outra pessoa. Talvez conseguisse, tinha em mente que ele era um pouco dramático e talvez fosse normal aquele distanciamento entre os dois, não seria ele que iria atrás novamente, já o havia feito várias vezes e sinceramente achava que seria inconveniente, sentia a falta dela essa era sua máxima.
Não comentava muito com ninguém, mas todos os mais próximos reconheciam que ele tinha um vazio em si, na maioria dos dias ele simplesmente negava, em vão não conseguia mentir, estava em seus olhos e um certo sorriso a cada lembrança dela. Mesmo distante fazia planos que talvez nunca se concretizassem, pontualmente pensava nela quase que diariamente, achava fantástico como ela vinha em fácil associação com milhares de coisas em seu dia a dia, era complicado fugir.
Queria sim ser o brinquedo dela, não suportava a idéia de pensar dela ter outro, nunca teve ciúmes, não acreditava nisso, uma vez que duas pessoas estão juntas é porque querem. Faria de tudo para que pudesse esconder sua própria euforia sobre ela, e que fosse natural, sem o sofrimento pudesse vê-la, segurar em suas mãos suaves e o único movimento de lábios acontecesse quando os dois se tocassem.

domingo, junho 06, 2010

Dotes.

Desigual, podia definir assim suas atitudes e ações, melhor acreditar que não podia ser diferente, diante de um novo afeto se fazia indiferente até conseguir o que queria, dali pra frente tudo terminava em ruínas. Elas não voltavam e ao longo dos dias ele mesmo não esperava por isso, se acostumou com a solidão à sua maneira, tinha o que precisava em seus livros, copos e sua janela.
Fitava a rua e assim ficava por horas, carros carros carros e silêncio, não mudava muito ao longo do dia no entanto passava bom tempo ali sobre o cruzamento.
Em dias assim mesmo olhando para o movimento podia se dizer que não via efetivamente nada, estava distante, cego em pensamentos. Ia e voltava, abria e fechava tópicos sem nenhuma preocupação, dialogava sozinho em sua mente, claro que ela repetidamente era recorrente lembrada, sua voz, cabelo, olhos, e em cada comparação ela se sagrava vitoriosa, mal ela sabia de seus próprios dotes, ele não esquecia sequer de um e os existentes mesmo enviesados eram máximas para ele.
Tudo naquela noite parecia ser exatamente igual, parecia e foi, ano após ano não conseguia estar satisfeito independente do que estava vivenciando. Não era uma preocupação em si, mas continuava pra baixo, tão baixo quanto seus pensamentos.