quarta-feira, outubro 14, 2009

Postal.

“E, por ouvi-la incessantemente, não a escutam. Não há necessidade de ouvi-la.”
Partiu desta premissa no momento em que parou de ler seu livro, seu sonho de criança e a realidade na qual estava instalado eram inversamente diferentes. Mesmo assim, não desistia, o que procurava agora ao invés de mundos distantes, vilões de revistas em quadrinhos e ao mais tardar garotas, o que ele queria agora era algo nunca antes visto, era essa sua única meta.
Premissas são interessantes, no seu caminho de saída parou na cozinha e tomou meio copo de água, o virou e deixou pela borda da pia. Pegou suas chaves e deixou o seu mundo só com as vestes do corpo, alguns trocados e um certo brilho nos olhos. O mundo lhe tachava de coitado sempre o zombou do minuto em que nasceu até hoje, não deixava que isso lhe tirasse o sorriso de sua face,  o leilão que era feito com suas emoções por cada um que conhecia não afetava, de verdade, diziam três, e ele sempre optava pelo dois, e nessa levada as horas, dias, anos passavam, já tinham ido vinte e cinco, era justo e ao mesmo tempo firme, o tempo sempre se despede antes do esperado e nem sempre tão caloroso. Chegando ao térreo, saiu de sua morada, foi diretamente à banca de jornal, não comprou nada além de um cartão postal, não tirava fotos, sempre teve na vida prazer de ter que voltar aos lugares pra ver as coisas novamente,  mas dessa vez teria que ser diferente, sabia que voltar aquela cidade seria complicado demais, e não arriscaria ficar sem uma recordação, por mais sutil que fosse, virou o postal e logo escreveu a data ali mesmo com uma caneta que estava ali a deriva. Seguiu caminhando, nunca teve um carro, ora por falta de dinheiro ora por falta de vontade, mas sempre andava com sua habilitação na carteira. Andou até chegar no Banco Federal, passou pela porta giratória de vidro, abriu a blusa, mostrando explosivos e gritou em alto e bom som:
"-Todos ao chão, não quero explodir todos hoje.”

Nenhum comentário: