terça-feira, outubro 20, 2009

Descrito.

Você reclama e não faz nada pra mudar. Essas palavras continuam ecoando em sua cabeça quando ela já tinha parado de falar, mas ambos permaneciam ali, no quarto, tinha certeza que aquele cômodo já tinha sido mais alegre, pelo menos para ele, agora pairava no ar além da incerteza do amanhã, o receio atual de não se entenderem mais, ele sabia que ela só dizia verdades, a honestidade foi a primeira coisa que lhe atraiu nela, além da certeza em todas as vezes transparecia quando ela dizia algo, era fascinante. Ela continuava o encarando, aqueles olhos castanhos sempre lhe diziam algo porém hoje as palavras só saiam por entre os lábios dela, eles queriam dizer algo de novo. Você só se importa consigo mesmo e deixa a rotina te consumir, como você pode ser tão passivo? As palavras vinham como punhos de encontro a sua face, sua esquiva sempre tão boa em lutas agora deixava passar tudo, não que quisesse escutar aquilo, mas precisava, pouco a pouco estava saindo do estado de torpor induzido por si próprio e impreterivelmente a voz dela lhe fazia sentido. Não sabia mais onde morava, ao fundo continuava escutando Tchaikóvski, olhou rápido para o relógio, notou que estavam ali há dezessete minutos, o suficiente para que toda a tensão iniciada por ela se esvaísse e o tornasse um animal, faminto por sinal, mas ele era cauteloso, sabia que era mais fácil ser devorado que efetivamente devorar, não a conhecia suficientemente, e nunca achou que fosse realmente conhecer algum ser humano, ela mudava constantemente, e hoje não era diferente, estava cansado disso, por mais que gostasse que ela apontasse suas falhas, não suportaria ver alguém em situação pior lhe dissesse como levar a vida, se levantou não estava em casa, a deu um abraço apertado, se segurou firmemente e não disse nada, a beijo-lhe a testa, sabia que seria de certo a última vez, se afastou devagar fazendo que os dedos se desentrelaçasse devagar, sentiu um certo aperto, mas o mesmo ainda era com um ar de despedida, virou rapidamente, sabia que subitamente aquelas feições o fariam ficar por ali mais, tempo abriu a porta. Ela falou novamente, algo como se oferecesse pra ir junto até o portão. Ele não recusou, assentiu com a cabeça, ela voltava à abraça-lo, ele como havia sido descrito minutos antes aceitava passivamente, por mais complicado que tivesse sido se largaram, ao passar do portão a primeira feita foi desligar seu telefone, estava a caminho da rodoviária, é por mais infantil que fosse a idéia, pegaria a o primeiro ônibus, mas não pra qualquer lugar, secretamente alimentava essa idéia a certo tempo, iria para casa, mesmo sem saber onde ela estava.

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