terça-feira, novembro 17, 2009

Aparelho.

As pernas cambaleavam, no relógio da rua ainda marcavam três e quarenta da manhã, impossível, sabia que não era coerente com a imensidão de coisas que haviam ocorrido naquele banco. Horas antes, ambos combinaram de se encontrar, ele como sempre escolheu o lugar e ela as horas, aparentemente isso transparecia a tranqüilidade que na qual a relação seguia. Ele sempre chegava antes, não gostava da idéia de ter outras pessoas esperando por ele, e não via problema algum em esperar pelos outros, ela raramente olhava as horas, felizmente ele não ligava. Aquele dia em especial seria diferente, teria que ser.
Na semana que havia passado, nenhum dos dois agiu como de fato normalmente o fariam, ele atordoado por um sentimento de incerteza de um futuro concreto, ela pelo contrário, tinha certeza do que queria, algo tanto quanto conflitante com a situação atual dos dois. A praça era confortável a ambos, era ali que tudo tinha se iniciado e não voltavam lá a certo tempo. Escolheram para sentar um lugar com sombra, ela estava de branco, cabelos soltos, ele também usava branco e o mesmo surrado tênis.
Como de costume estavam abraçados, seus braços lhe faziam tão bem, e nessa hora tudo lhe fez sentido, ali juntos sentados, o que sentia não era nada confortável como de costume, a frieza reinava, e por aqueles segundos se deu conta que nada mais seria o mesmo. O sol já estava de despedida quando ela resolveu dizer o que se passava, não era da índole dela, não conseguia ser má, tampouco pensava em trazer mal a ele, mas sabia que não era algo exatamente certo para aquela fase de sua vida, com um discurso planejado conseguiu obter as mais inesperadas reações, ele estático, pela primeira vez desde que tinham se conhecidos, o viu ficar sem palavras, e quando ameaça falar algo, apenas os lábios se mexiam, e um som inaudível porém esclarecedor saía dali.
Ainda tinha certeza de que aquilo precisava ser feito, mas ela não agüentava parecer ser a única a proporcionar aquele momento a ele. Foi fraco, ele mesmo já havia cogitado a possibilidade de estar desse outro lado da conversa meses atrás, mas por sorte achava, não conseguia se distanciar dela, os momentos bons sempre sobressaíam a certas desilusões. Nesse meio tempo a culpa lhe tirava o ar como um garrote estivesse apertando sua garganta. Não tinha escolha, um bloqueio mental o amaldiçoava, e podia ver pela face dela que também não estava feliz com aquilo tudo, mas uma satisfação fugia do por trás dos olhos. Tinha sido um erro achar que todas eram igual a ela, lhe provava a cada momento, e não ele não notava.
E por algum motivo as pernas cambaleavam, ela tinha ido embora, por volta das onze da noite, ele não teve a capacidade de se levantar, e nem acomodado permanecia por lá, já não era mais o estático, mas a dor tinha se tornado algo físico, estava em um situação complicada, não conseguiu formular e argumentar nenhuma palavra com ela, e agora não sabia mais ainda se teria a sorte de vê-lá novamente. seu aparelho celular tinha tocado cerca de cinco vezes desde de que ela havia deixado a praça, não teve vontade de tira-lo do bolso até então. Tocou novamente, resolveu ver apenas quem era, nem sinal dela,e mesmo que houvesse, não era algo que desejasse. Desligou o aparelho no mesmo momento que um carro parou do lado da calçada daquela distância não reconhecia quem era, sua miopia e implicância com óculos não o ajudavam nessas horas, para sua surpresa, não tinha idéia quem tinha saído do carro, era uma garota pelos seus vinte e um anos, que escolheu um banco à frente de seu carro e começou a escutar música, estava ali apenas relaxando.
Nada mais justo, nunca se importou com “dores” alheias, não seria hoje que algo diferente disso lhe aconteceria com ele, e continuou ali sentado mais tempo do que imaginaria e que precisava.

Um comentário:

Yellow disse...

Gostei especialmente desse, um beijos :*