terça-feira, novembro 24, 2009

Cela.

Ficou sem dormir por dois dias, e por mais que se sentisse cansado por mais que ficasse na cama, nada acontecia, fechava as janelas, passava horas a fio ali. Sentia que possivelmente seria o único no mundo com aquela capacidade nem tanto formidável. Não via nenhum ser humano a algum tempo, o casal do noticiário não contava. Ele sequer conseguia distinguir as palavras que eles diziam intercalados com imagens que estavam turvas diante de seus olhos. Era algo de infância, sempre teve insônia, era algo horrível mas que com o tempo se tornou acostumado a tudo isso, pudera também, com trinta e oito anos já não se dava ao luxo mudar seus princípios.
Batidas à porta, se perguntou quem era, tentou se levantar, não agüentou o peso de suas pernas, foi de frente ao chão, estirado, como se por um segundo perdeu os sentidos, mas como as batidas na porta continuaram ele voltou a si, abriu os lábios, como esperado não tinha forças para falar sequer uma silaba, decidiu então fazer o máximo de força, de duas uma, ou chegava à porta e via quem era, ou dormia, e como internamente implorava para que a segunda opção fosse a uma. E então se pôs a rastejar, e notou que era extremamente bom nisso, se sentiu com vinte anos novamente no seu ano a serviço militar, fazia isso diariamente e inexplicavelmente não tinha esquecido nenhum movimento. Já havia saído do quarto, tinha agora o longo corredor até a porta de entrada, por mais impacientes que fossem as batidas à porta elas não paravam, sentia uma certa disposição em espera-lo, e continuou, cotovelos e pulsos seguidos dos joelhos, essa era sua seqüência, sua missão, seu sono inexistente até então, continuava escondido, era a melhor trincheira do mundo, pensou consigo mesmo. 
A porta se via cada vez mais acessível, o sol que entrava por meio da janela da sala, os raios de sol cegavam seus olhos, pensou em cobri-los já que fecha-los não adiantou muito, mas sabia que tinha que continuar com sua seqüência mecânica de braços e pernas, a curiosidade era seu combustível naquela hora e nada mais lhe importava, quem seria? o que queria? Estava ao pé da porta.
Por fim acordou, ao olhar no relógio e viu que esteve dormindo por vinte minutos, e gargalhou por ter conseguido sair de sua cela rastejando e ter confundido do corredor da penitenciaria pelo de sua casa, mesmo que por sonho, passou mais um dia feliz.

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