quinta-feira, maio 26, 2011

Derrota.

Ter a certeza que não era o primeiro, mas saber que era o único. De que adiantava fazer a barba e lavar o rosto, os dias não lhe traziam mais nenhuma novidade, não era tudo que tinha perdido o gosto, mas ele em especial.
Nada de fantasias e achismos, sabia que nunca ia encontrá-la em outros corpos, a verdade é que nem ele mais sabia o quem era ela, talvez nunca tivesse sabido. Nunca exigiu qualidades que nem ele possuía mas nem por isso não era seletivo, em matéria de amor tinha sempre muito cuidado, sabia que era o único sentimento que lhe fazia perder um dia de choro ou sorrir a cada cinco minutos.
Desdenhava pensamentos, já era alheio a eles, conseguia conviver, finalmente aceitou que talvez ela permanecesse ali mais tempo que o pretendido, não era bom com despedidas, não apressaria sua mente por nada.
Tudo a seu tempo, não mais metódico com fórmulas e respostas prontas, nada sabia, nada fazia, esperaria um caminho, viveria a cada dia, expectativas lá embaixo, talvez satisfação lá encima, talvez.
O canal estava mais vazio do que de costume, certamente ela nunca mais passaria por ali, ele eventualmente, sairia pela cidade, sentaria em bancos de madeira sozinho, pelas três da manhã a cidade era dele, sua mente era dela.
Jamais conseguiria culpá-la por nada, e o ego faria todo o esforço do mundo para atribuir a si a razão da derrota, mesmo quando não sabia exatamente o que tinha perdido. Tinha ficado claro que só teve lampejos dela, alguns momentos pode tê-la por inteiro, mas preferiu seguir outro ritmo, o do medo, se esqueceu de uma das premissas mais básicas e a única certeza que sempre tinha feito jus, podia ter arrependimento ou desculpas, mas nunca os dois, e ali sabia que os dois reinavam igualitariamente.
Não ia facilitar mais uma quebra, se diria consciente e para se perdoar, mas não tinha nem um pouco da experiência e da maturidade para negar nada a ninguém, lembrando que ninguém neste caso era uma pessoa só e ao mesmo tempo todas.

Nenhum comentário: