terça-feira, abril 27, 2010

Lobo.

Desapontado, fora de eixo, cansado. No seu corpo os acontecimentos do ano estavam-lhe deixando marcas, isso era fato.
Os gostos musicais eram praticamente os mesmos mesmo afundado em novidades, e não era só na música que continuava constante.
Sirenes uivavam pela janela, além disso mais nada, o quarto apagado, porta fechada, janelas abertas, tudo escuro, como o teto do quarto era solidário e companheiro. Comtemplava aquele retângulo por horas, toda a noite percebia que a luz não estava alinhada e a cada manhã acordava e esquecia daquilo, impressionante, memória seletiva infeliz, disso nunca de esquecia.
Tédio, falta de interesse, falta de ar-condicionado. Naquela cidade sentia o calor de uma forma diferente, não como estava acostumado em sua cidade natal, por aqui era notável a diferença, leveza e naturalidade não existiam, tudo era pesado, mal pigmentado, corroía a pele, puros ossos advindos do dinheiro lhe diziam, claro que não discordava de nenhum deles em público, porém, frente ao espelho falava tudo o que reprimia ao longo dos dias, e como falava, sem tempo, óbvio que sentia vergonha daquilo, mesmo com portas fechadas, ele podia sim reprimir tudo com música alta, mas não o fazia, de forma clara e tranquila e repetia todos os dias após acordar, tinha que esperar o sono passar, quase nunca o tinha, não podia colocar murmúrios antes do mesmo, claro que não existia mal algum e começar o dia com eles, mal humorado só para os outros, mereciam, não, sim, talvez, quem era ele pra definir aquilo, e qual a importância tinha?
Efetivamente sabia o que era importante, olhou para sua caneca, o chá estava pelo fim, frio, e de ontem, melhor impossível. A única coisa que não lhe fazia sentido era o uivado que nunca parava, talvez não fossem sirenes, tampouco a cidade.

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