segunda-feira, abril 12, 2010

Colírio.

Mesmo sem saber, no mesmo dia ela sabia consolar e destroçar aquele rapaz, e a dor era profunda, lhe trazia vazio, desolação, um salto inesperado à dor.
Ele tinha imenso receio em ler aquelas cartas, quando chegavam corria feito maluco para abrí-las, e depois que abria perdia um certo tempo para realmente começar a ler, medo de que o frio se instalasse de vez em sua pessoa, tinha noção de que cada palavra vindo dela tinha um poder imenso em si, era refém daqueles trejeitos, da forma doce e desinteressada da parte dela. Era óbvio que para ela ele era apenas mais um, não havia outra explicação, não podia acreditar que ela fazia aquilo de pura maldade e escolhesse as palavras com um único motivo de destroçá-lo, por mais importuno e inconveniente que tivesse sido algum dia na vida dela.
Sentia que de alguma forma, se destacava da curva normal, e não sabia até que ponto isso era interessante, o homem não sabia como agir encurralado e na maioria das vezes abaixava a cabeça, permitia ser coadjuvante de um filme inexplicavelmente absurdo. Ser fantoche dele mesmo nesse roteiro, depois de tudo que tinham passado, sentia que pouco significava à ela, para ele ironicamente pouco ou nada se esquecia dos momentos juntos. Memórias assim martelavam em sua cabeça, o mundo inteiro estava a sua disposição e não era capaz de aproveitá-lo, todos os sentidos eram voltados à ela, via sua face por toda a parte, seu nariz simplesmente sentia somente aquele perfume, suas mãos não queriam perder aquela sensação de calor e conforto, nenhuma voz lhe confortava tanto, e o melhor colírio para seus olhos eram aquele sorriso.
Não via escolha se não a deixar de aceitar aquilo como verdade, nada mais lhe fazia sentido, sinestesicamente a sentia em tudo que tocava, prestes a se tornar psicótico tomou o telefone por mais uma vez e… nada fez, ajustou o despertador e deitou-se mais uma vez, seria uma noite péssima.

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