segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Aberto.

Ela lhe trazia mais emoções que todos os fascínios da cidade de Paris juntos. Talvez não, raramente se importava com alguma cidade, e São Paulo lhe propunha quase tudo que pudesse imaginar, mesmo assim ainda perdia dela.
A madrugada tinha dado suas caras, e na televisão passava aquele jogo com raquetes, bola amarela e uma rede, ao vivo transmitia a disputa, gemidos e urros lhe brindavam mais uma noite solitária. Não tinha vontade alguma de continuar forçando seus olhos naquilo, mal via a bola e cada vez mais apertava seus olhos. A desligou, rumou a janela, como a cidade dormia bem, nenhum barulho sequer, mal existiam luzes acesas também, talvez dormissem e passou pela sua cabeça que talvez devesse fazer o mesmo, fitou a cama por um instante, relutou, mas mesmo assim se jogou nela, uma cama de solteiro simples, com dois travesseiros e nada para se cobrir, afinal fazia muito calor em janeiro.
Uma hora e meia deitado, não tinha um relógio em mãos mas acreditava que esse tinha sido o tempo que ficara ali contemplando o teto de seu quarto. Dormir não era fácil, acessos de insônia tinham virado rotina. Não fazia nada a respeito, acreditava que a maioria das coisas eram psicológicas, ou acontecem por simplesmente tem que acontecer. Passava a maioria de suas noites assim contemplando o teto e as paredes em seu redor.
Excepcionalmente hoje não pensava nela, claro que era inevitável não lembrar dela ao longo dos dias, mas lembrar e pensar são coisas totalmente distintas. Ela por sua vez no outro lado da cidade o escrevia, talvez ele nunca fosse ler aquele caderno cheio de letras e talvez nenhuma razão, mas o importante é que era para ele, ela não se permitisse dizer ou viver esse pensamento, mas precisava exprimí-lo de alguma forma, o caderno e a caneta preta estavam sempre ali e nunca a julgavam, ela era diferente a cada dia, não existia em si uma prioridade de se manter estável, dificilmente reagia da mesma forma a mesmos estímulos, se tornando ilegível para qualquer pessoa normal. Ele certamente a amava por isso, ela não imaginava, simplesmente era assim, e sua teimosia não permitia enxergar que mais ninguém partilhava dessa personalidade.
Não sabia como agir ao certo, ela tinha pedido distância, a primeiro momento ele nunca iria processar aquilo da forma correta, e não que exista uma, mas errou e acreditava no erro a cada dia. Só tornou mais fácil para ela, afastaram de maneira exemplar, mas a verdade é que nunca conseguiram ficar muito tempo longe, não se conheciam a mais de um par de anos, e nunca alguém em tão pouco tempo havia proporcionado tantas mudanças respectivamente.
Simples como chuva que cai sistematicamente todo dia na floresta amazônica eles precisavam um ao outro, e nessas trocas de palavras por mais que fossem rotineiras, e a um primeiro momento frias, lhes trazia um pequeno acalanto, um frescor diferente e inovador rejuvenescia pouco a pouco cada vez que um precisava do outro, intrigante notar que nessas horas cada um era único, nenhum ou nenhuma outra tomava esse espaço, insubstituível seria a palavra correta.
Ele ainda não tinha dormido, pensava que ela já deveria estar sonhando, estava no terceiro set, ele apenas pensava.

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