sábado, fevereiro 06, 2010

Perene.

Era a única que não podia eventualmente falhar, num contexto lógico seus anseios não podiam ser trabalhados, brilhante, não há o que reclamar, era o que pensava todos os dias antes de encostar sua cabeça no travesseiro, os cabelos recém cortados lhe davam uma sensação que a anos não tinha, última vez que havia cortado os cabelos foi ao ingressar na faculdade aos dezoito anos.
Nesse ponto de sua vida sabia que não tinha lugar nem para cair morta, quando se está a mercê do mundo você se transforma num problema, algo que deve ser evitado e jogado longe.
A sociedade faz isso por você, e com ela não seria diferente, já tinha sido utilizada ao máximo de sua capacidade e agora não importava mais, prestes a seu fim se lembrou que talvez não fossem todos que queriam esse fim a ela, fez pouco que pudesse se orgulhar, porém o que se orgulhava tinha tomado todo o seu tempo, e tinha feito com tanto amor que inexplicável o sentimento contido em cada ato feito.
E não seguia de fato nenhuma doutrina, religião, moda, seus instintos eram o único fator que a movia, e por eles fazia loucuras, muitas delas inesquecíveis, surreais e não usuais para a maioria das mulheres de sua idade, não tinha escrúpulos e era impressionante que fosse assim mesmo com uma memória tão boa, claro que o que saía dela era extremamente pensado da forma mais racional possível, sem danos a ninguém, só os necessários.
E se via morrer, dia após dia frente ao espelho sabia que não era a mesma a cada minuto mudava, de perene só sua voz, para maioria tanto diferente, para ele encantadora, só para ele.
E uma das coisas que podia ter certeza apesar de não saber, era que mesmo com o fim mostrando suas faces, sentia na espinha dorsal o que era dar um adeus a ninguém em especial, ele nunca a deixaria morrer, estaria sempre viva, e não de uma forma estática, sempre em sua mente, vivendo e a saboreando a cada dia, vivendo em uma nostalgia criativa, uma prisão pré-programa que se apresentava fielmente de maneira diária, aqui não existiam celas tampouco algemas, elas eram substituídas pela distância e incertezas, disso tinha certeza.

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