sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Giratória.

O café derramado fora da xícara dava indícios que não seria um bom dia, resolveu tirar o paletó por hora e tomou com tranqüilidade seu café junto à um croissant com manteiga, o dia estava nublado, ótimo, pensou consigo mesmo.
Ironicamente pegou as chaves de casa e colocou sua carteira no bolso de trás, sempre no direito, saiu de casa e fechou a porta com convicção, após trancá-la notou que o corredor continuava estranho, pouca luz entrava pelas duas janelas uma em cada ponta dele, e de manhã misturado a sua dormência aquilo lugar era aterrorizador, acelerou o passo até os elevadores, estavam no quarto andar e teriam que subir mais seis para vir ao seu encontro, aguardou batendo com a ponta dos sapatos no solo e murmurando uma bossa qualquer. Tão logo o elevador chegou já estava nele, apertou o térreo com o polegar esquerdo e se enganou mais uma vez lembrando que não existia espelhos nos elevadores de seu prédio.
Mesmo assim ainda sentia um pouco de fome, não sabia ao certo o que viria pela frente, mas não podia perder mais tempo.
O tom cinzento que o céu proporcionava era bom, deixou seus óculos escuros no bolso do paletó mesmo, entrou em seu carro, não precisava de mapas, sabia exatamente onde iria.
Por cada esquina via caras felizes e tristes, tranquilas e apressadas, achava mágico quantas feições uma cidade grande propiciavam, deu seta à esquerda e avistou seu destino após vinte minutos, o banco estava lá, imponente, intransponível, improvável, pensou consigo mesmo.
Deu mais uma seta e adentrou no estacionamento subterrâneo da instituição, fechou o carro, o rapaz encarregado da segurança do local lhe fez um sinal de positivo, foi respondido com um leve movimento de pescoço, chamou o elevado com o mesmo polegar esquerdo, e desta vez pode arrumar a barba com as paredes espelhadas. Apenas um andar e estava no térreo, 4 vigilantes à mostra atrás das paredes de vidro brandindo pistolas calibre 38. e cacetes de borracha, jogou sua carteira e chaves no depósito ao lado da porta giratória e atravessou sem medo a eclusa, do outro lado quase se esqueceu de seus pertences mas ao segundo passo voltou por eles.
A gerente se instalava no segundo andar do edifício, olhou para a fila do elevador e desta vez preferiu às escadas, não confiava naquilo a não ser que ele mesmo chamasse, o carpete verde iludia os clientes quanto a tranqüilidade daquele local, deveria ser vermelho, e foi pensando nisso até ser chamado.
Ela era voraz e mais ambiciosa que o próprio banco, o demônio de saltos altos, ele não podia transparecer fraqueza alguma, ela sentiria e tudo iria por água abaixo, ela tinha um ar de arrogância e prepotência, levava aquela agência nas costas e era o pesadelo de inúmeros empresários e o pior, sabia disso.
Secretamente respirou profundamente, tomou coragem e finalmente disse: -“Volta pra casa?”

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