quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Revista.

Agonizante, à via de noite, à via de dia, vontades tinha, não chorava, não vivia, de acordo com sua conduta o mais provável era que se afastasse, e foi isso que fez, por várias vezes, cada vez mais longe, até onde sua renda o mantesse, e o fazia sem medo, comprava passagens só de ida em qualquer aeroporto.
Esses lugares lhe pareciam mágicos, podia escolher praticamente qualquer país do mundo e em questão de horas estar lá, claro que as poltronas e o tratamento especial era aditivos à sua paixão por aeroportos.
Porém ficava fácil perceber que ele não podia manter-se desta forma, depois de semanas voltava com os rabos entre as pernas, feliz, repleto de assunto, mas sem ter para quem contar, o vazio era um ótimo espectador no entanto péssimo para conversar, e era disso que precisava naquele momento, alguém para se abrir, refletir, relevar sua opinião mesmo que irrelevante.
Cada cidade do mundo trazia certa peculiaridade especial, um sorriso marcante de cada morador ou uma breve mordiscada nos lábios de uma mulher prevendo uma chuva torrencial frente à um céu escurecido pelas nuvens. Ele sabia que não estaria em todas, e isso lhe trazia uma certa dor, pequena perto da outra, agonizante.
Sempre que voltava sentia-se inexplicavelmente parecido, independente de quão boa ou ruim a experiência tinha sido, ela fazia se fazia presente na saudade, já tinha jurado inúmera vezes que não se sentiria assim, nunca mais olharia para trás, inútil, se engava desta forma, e voltava, a amava.
A cada carimbo no passaporte, o teto de seu peito desabava, outonos inteiros de renúncia à aquele sorriso, avião nenhum tirava aqueles olhos de sua memória, o século XXI lhe trazia notícias de qualquer lado do mundo, mas a única coisa que realmente era saber de verdade, era dela, um “como vai você?” e que fosse respondido de forma verdadeira. Nada de conversar mecanizadas e agradáveis. “Viajo porque preciso, volto porque te amo”, nunca uma revista de avião lhe havia feito tanto sentido.

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