terça-feira, fevereiro 02, 2010

Escada.

A verdade é que ela estava sendo extremamente sociável, e ele mesmo embriagado tinha medo disso. O fato de correr atrás de um “não” não fazia sentido à sua cabeça. A dias ele não sabia como lidar com esse emaranhado de informações e emoções. Não a via a meses, talvez pessoalmente nem a conhecesse mais, como estariam seus cabelos, roupas, trejeitos, passava grande parte de seu tempo imaginando como ela estava, não se sentia seguro o suficiente para perguntá-la, nem achava correto, se comentasse isso com alguém seria ridicularizado por todos é verdade. Permanecia calado.
Ao passar dos meses, ela mesmo não sabia o que sentia, tinha dias que era evidente que sentia sua falta, mas eram dias, não tinha certeza se permaneceria acontecendo isso por muito tempo, mas era admissível uma pequena carência, por mais que machucasse um pouco, para ela talvez fosse melhor que sentir isso do que voltar ao que sentia antes, com ele. Permanecia assim, quieta, longe mas nem tanto.
Acessibilidade para ele deixava no ar sempre um certo ar de desconfiança, sim lhe chamavam de pessimista e assentia sorrindo com a cabeça, sempre pensava no pior que pudesse acontecer em qualquer situação, assim sabia que quanto menor as expectativas menores as decepções e ao mesmo tempo uma satisfação tanto quanto aceitável.
Quanto mais tempo passava mais dúvidas entravam em suas cabeças, não sabiam tão bem quanto se portar, se cada palavra era adequada ao momento e mais uma imensidão de pensamentos girava na mente de cada um, que seriam impensáveis anos atrás. Pareciam fantoches, diziam frases prontas, agiam de maneira esperada e explicávelmente sem graça, viviam aquela mentira juntos, por afeto faziam isso e pelo mesmo afeto sentiam carinho nisso e tinham medo de perder aquilo, para qualquer outro casal aquilo poderia parecer simplesmente ridículo, para os dois era aceitável, nem céu nem inferno um purgatório. Ali parecia não existir surpresas, tudo era previsível e pouco mas confortador.
Era o que ambos pensavam, mas naquela noite tinham suas mãos nos aparelhos telefônicos ao mesmo tempo, talvez pensassem um no outro, talvez não, nenhum dos dois o soltava, nem se soltavam, a melhor escolha simplesmente não aparecia, e qualquer aproximação dessa forma talvez fosse um passo muito grande, aparentemente a mesma que levava para cima também o levava para baixo.

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