sexta-feira, janeiro 29, 2010

Gancho.

Já era tarde e devia estar dormindo já, não estava de férias, foi o que fez, tirou suas vestimentas casuais e se jogou em meio a cobertas e travesseiros de sua cama, foi ai que notou que o cheiro ali não era o dele, tampouco o dela. Nada mais justo o dela ter saído dali, fazia tempo que não passava perto daquele quarto e consequentemente de sua casa. Era algo que lhe intrigava profundamente, mesmo assim antes de dormir, aquele perfume não havia deixado o travesseiro, o sentia noite pós noite, e sim, era delicioso. Há algum tempo pensava ser um tipo de paranóia interna sua, mas ao longo do tempo, se acostumou a idéia e até então era uma forma boa de reviver o que de bom tinha acontecido entre os dois. O mais estranho é que mesmo com outras mulheres recostando a cabeça ali, e algumas com perfumes insuportáveis, mais sufocantes que elevador lotado nunca tomavam espaço daquele cheiro. E não era algo generalizado, nenhuma roupa sua tinha aquela fragrância e nem o canto esquerdo do sofá, que tinha ficado com o formato dos dois sentados assistindo os mais diversos filmes exalava nenhum cheiro.
Não entendia então como aquele cheiro não estava mais lá, lhe dava um conforto enorme, antes de cada repouso sentia aquela pureza, e a cada despertar o enchia de energia, já não sabia se conseguiria dormir aquela noite, olhou para o relógio, marcavam três e trinta e três da manhã, número peculiar mas pouco importava o desespero rondava sua cabeça. Passou em sua cabeça a idéia estúpida de ligar para e ela, mesmo sem ter o que falar. Não se deixou levar pelo impulso, só pioraria as coisas, recentemente ela estava sendo cada vez mais acessível, e parecia ter se tornado uma pessoa extremamente diferente do que era, não tinha certeza se era bom ou ruim, para ela parecia fazer a diferença, logo ficava feliz em ser o mais diferente possível dentro de suas doutrinas, nunca traía suas máximas, e eram tantas que não achava mais possível listá-las. Devolveu o telefone ao gancho, olhou para o teto, nada, pela janela era fácil constatar que a cidade dormia, até alguns postes da rua acompanhavam esse sono e permaneciam apagados, ele não.

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