quinta-feira, outubro 21, 2010

Apreço.

O importante é ter sempre o que falar, mesmo que nada seja dito, puxou de lado aquela velha agenda, inteiramente rabiscada não só por ele, mas se fossem necessários créditos a maioria do tempo seria preenchido com seu nome em letras garrafais maiúsculas brancas sem serifas em meio ao fundo preto animador de qualquer créditos de cinemas.
Já na contra capa a rotina inteiramente detalhada, linhas retas propositalmente torta já que foram feitas sem réguas dão um ar casual para o documento, sim era um documento, nele podia não estar escrito nada mais que as obrigações diárias em um período de tempo, mas cada traçado continha uma história, uma lembrança, uma emoção diferente. Claro que com o passar dos anos não conseguia se lembrar de todas no mesmo instante, porém após um tempo fitando as páginas sabia exatamente o que sentia no momento da ação, sim pra isso o dia no canto de cada página não servia para nada, só um enfeite, ou talvez só para que aquilo pudesse se chamar agenda.
Não escreveu ali nada mais que o óbvio, compromissos e telefones, a graça não estava nisso, e sim nos desenhos e rabiscos de desespero, não contou, mas provavelmente estavam em maior número. Desde de linhas retas perpendiculares que podia ser simplesmente a chuva ou qualquer outra coisa, e só ele sabia, não costumava achar graça em uma verdade velada, mas naquele caso era tão íntimo e pessoal que sentia um certo charme, aquele bloco velho de folhas guardado com apreço em sua gaveta passava desapercebido para um qualquer outro que viesse a ler, mesmo os mais chegados.
Explicaria isso algum dia a alguém? Provavelmente não, primeiro que ninguém se importaria, segundo que mesmo que se importasse, valeria perder algo tão íntimo para outra pessoa, talvez sim, já o sentido, deixa ele pra mais tarde.

Nenhum comentário: