segunda-feira, março 08, 2010

Fel.

Mais uma noite, mais uma apresentação, mais uma multidão entregue ao delírio, para ele era assim que as noites passavam naquele lugar. Era sim o sonho de muita gente, para ele nada importava muito, mesmo assim dava valor ao que vivia. Músicas, danças, acrobacias e bocejos se uniam de forma tão sublime junto às luzes que embriagavam qualquer um por lá, qualquer um exceto ele.
Ela estava lá naquela noite, não a via a mais de dois anos, e impressionante, continuava não sentindo nada por ela, todos o descreviam como frio, distante e pouco caloroso, e para ele não era um testemunho falso, não gostava de ser assim dia após dia, mas fazia isso com tamanha naturalidade que estava salvo a se sentir mar por tal atos.
Foi ao bar, pediu a mesma cerveja de todas as noites, enquanto o malte esfriava sua garganta ele olhava todas elas ali, alegres, disponíveis, dançantes, ele não se movia, de costas para o bar de frente para todos.
Ela dançava também, nada de especial, cabelos longos e lisos com uma franja que escondia um dos seus olhos azuis. Vestia um vestido justo que deixava o tórax e as coxas torneadas à mostra, e a curva dos quadris encantavam qualquer um ali naquele noite, qualquer um exceto ele.
Mesmo assim não fez nenhum movimento até acabar sua bebida, logo ao fim dela pediu outra, a mesma disse ele com voz forte e um pouco rouca, fazia mais de uma semana que não dormia bem, não sabia dizer se era o calor, o ócio ou qualquer outro fator que estivesse atrapalhando suas horas mais importantes do dia.
Ela continuava lá, não parecia esperar ninguém, talvez não, mas nunca confiava em sua visão míope, nada além de um metro podia ser visto com definição, nunca colocava seus óculos fora de casa.
Foi até ela, lhe disse um oi, e com certa falsidade perguntou de sobre a sua vida, não que quisesse realmente saber, pouco importava, mas achou que era oportuno, ela sorria, agora ela movia menos, mas mesmo assim não parava, olhos continham certo brilho, alguns italianos brindavam o local e deixavam certo romance no ar, tudo era mais fácil, as estruturas do local devido à altura balançavam um pouco, proporcionando um vai-e-vém confortante, quase tão confortante quanto as coxas delas, fazendo pressão frente às suas, confortante porém igual a anos atrás.
Noite após noite, ela retornava e retomavam o que haviam deixado para trás, claro que sem nenhuma perspectiva do amanhã que parecia constante, seu tênis branco já estava sujo, e tinha dias que preferia apreciá-la a distância junto a uma garrafa de cerveja do realmente vivenciar aquilo, não via nisso um problema, sua relação com mulheres se desgastava rapidamente, por mais gentil e interessante que fossem com todas.
Ela não era mais ingênua, tinha perdido todo o ar da inocência, ele se sentia o mesmo, e praticamente era, talvez agora estivesse mais experiente.
Naquela noite, tinha certeza que seria sua última e não colocaria mais os pés ali, o destino dela tampouco fazia diferença para ele, o céu estava diferente, tons azulados cobriam um céu estrelado e com uma lua tanto quando diferente, ela estava insaciável, ele seguia o ritmo da música, e certamente foi a última das noites juntos, porém o que mais fascinou aquela noite, não foi ela, afinal nunca tinha sido ela, mas a lua, aquela noite era outra, disso tinha certeza.

Um comentário:

Unknown disse...

Seus textos sao maravilhosos. Voce consegue descrever o cotidiano fielmente. E engraçado que grande partes dos textos eu tenho a sensacao que eu ja passei por aquilo, mas especialmente esse, parece que eu aconteceu comigo uma situacao muito parecida para nao se dizer igual. Mas no meu caso o rapaz nao era tao frio assim e acho que a moca o fascinou tanto quanto a lua . E ela acreditava que o destino dele era tao importatnte quanto o seu